O PoemaO Poema

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Wallace Stevens nasceu em 1879 em Reading, Pensilvânia, estudou na Universidade de Harvard e publicou seu primeiro livro, Harmonium em 1923, mas só obteve reconhecimento fora dos círculos especializados  após receber o prêmio National Book Award, em 1954, com a publicação do livro Collected Poems.

"Um homem cuja vida não conteve nada de dramático ou extraordinário, cidadão sem biografia, o norte-americano Wallace Stevens criou uma das mais importantes obras poéticas de língua inglesa deste século."

(comentário de João Moura Jr. para o suplemento literário
da Folha de São Paulo, "Folhetim", janeiro de 1984)

 


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Harmonium, 1923

Ideas of Order, 1935

Owl's Clover, 1936

The Man With the Blue Guitar, 1937

Parts of the World, 1942

Notes Towards a Supreme Fiction, 1942

Esthétique du Mal, 1945

Three Academic Pieces, 1947

Transport to Summer, 1947

Primitive Like an Orb, 1948

Auroras of Autumn, 1950

Collected Poems, 1954

Opus Posthumous, 1957

The Palm at the End of the Mind, 1967


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Wallace Stevens (14 anos)
Wallace Stevens (21 anos )
Wallace Stevens (43 anos)
Wallace Stevens (50 anos)
Wallace Stevens (69 anos)
Wallace Stevens (74anos 1953)
Wallace Stevens (76 anos)
walldeit3.gif (9193 bytes) O HOMEM DA NEVE

É preciso uma mente de inverno
Para olhar a geada e os ramos
Dos pinheiros cobertos pela nevada

E há muito tempo fazer frio
Para observar os zimbros arrepiados de gelo,
Os abetos ásperos no brilho distante

Do sol de janeiro; e não pensar
Em qualquer miséria no som do vento,
No som de umas poucas folhas

Que é o som da terra
Cheia do mesmo vento
Que sopra no mesmo lugar vazio

Para alguém que escuta, escuta na neve,
E, ausente, observa
Nada que não está lá e o nada que é.

(tradução de Paulo Venâncio Filho )

 

O REI DO SORVETE

Chame o enrolador de grandes charutos,
Aquele dobrado, e diga-lhe que bata
Os coalhos concupiscentes nas xícaras da cozinha.
Que as gurias zaranzem nos vestidos
Habituais, e os rapazes tragam flores
Em cartuchos de jornais do mês passados.
Que ser seja o final de parecer.
Só há um rei e esse é o rei do sorvete.

Tire da cômoda de pinho,
Que já perdeu três puxadores de vidro, aquele lençol
Que ela bordou um dia com caudas de pavão
E estenda-o de modo a cobrir-lhe o rosto.
Se um pé unhudo sair para fora, é
Para mostrar como ela está fria, como está muda.
Que a lâmpada afixe o seu filete.
Só há um rei e este é o rei do sorvete.

(tradução de Décio Pignatari)

 

MONTANHA DE JULHO

Nós vivemos numa constelação
De retalho e retinir de sons,
E não num mundo uno, nas coisas ditas
Acuradamente em música ou fala,
Como em piano ou página de poesia –
pensadores sem pensamentos últimos
Num cosmos sempre e sempre incipiente,
Como, ao se subir uma montanha,
Vermont reúne seus vários pedaços.

(tradução de João Moura Jr.)

 

A POESIA É UMA FORÇA DESTRUTIVA

Isto é que é a miséria,
Nada Ter no coração.
É Ter ou nada.

É uma coisa Ter,
Um leão, um boi no seu peito,
Senti-la respirando ali.

Corazón, cachorro bravo,
Bezerro, urso de pernas tortas,
Ele prova seu sangue, não cospe.

É como um homem
No corpo de uma fera violenta.
São seus os músculos dela...

O leão dorme ao sol.
O nariz entre as patas.
Ela pode matar um homem.

( tradução de Ronaldo Brito )

 

RE-DECLARAÇÃO DE ROMANCE

A noite nada sabe dos cantos da noite
É o que é como sou o que sou:
E em percebendo isto percebo melhor a mim

E a você. Só nós dois podemos trocar
Um no outro o que cada um tem para dar.
Só nós dois somos um, não você e a noite,

Nem a noite e eu, mas você e eu, sozinhos,
Tão sozinhos, tão profundamente nós mesmos,
Tão mas além das casuais solitudes,

Que a noite é apenas um fundo para nós,
Supremamente fiel cada um a seu próprio eu,
Na pálida luz que um sobre o outro joga

( tradução de Ronaldo Brito)

 

O HOMEM DO VIOLÃO AZUL

I

Homem curvado sobre violão,
Como se fosse foice. Dia verde.

Disseram: "É azul teu violão,
Não tocas as coisas tais como são".

E o homem disse: As coisas tais como são
Se modificam sobre o violão".

E eles disseram: "Toca uma canção
Que esteja além de nós, mas seja nós,

No violão azul, toca a canção
Das coisas justamente como são".

II

Não sei fechar um mundo bem redondo,
Ainda que o remende como sei.

Canto heróis de grandes olhos, barbas
De bronze, mas homem jamais cantei.


Ainda que o remende como sei
E chegue quase ao homem que não cantei.

Mas se cantar só quase ao homem
Não chega às coisas tais como são,

Então que seja só o cantar azul
De um homem que toca violão.

( tradução de Paulo Henriques Britto)

 

 

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