Muerte
de Narciso
(1937)
Enemigo
Rumor
(1941)
Aventuras
Sigilosas
(1945)
La
Fijeza
(1949)
Dador
(1960)
Poesía
Completa
(1985)
Arístides
Fernández
(1950)
Analecta
del Relojo
(1953)
La
Expresión
Americana
(1957)
Tratados
en La
Habana
(1958)
La
cantidad hechizada
(1970)
Paradiso
(1966)
Oppiano
Licario
(1977)
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"A
poesia é como o ar, toca o homem e o define, lhe dá
figura e contorno porém o ar é irrepresável.
Um dos milagres da poesia é que toca o fogo e é
ao mesmo tempo o fogo transfigurado. Isso não deve nunca
esquecer o poeta."
§
“A
grande plenitude da poesia correspondente ao período católico,
com seus dois grandes temas, onde está a raiz de toda grande
poesia: a gravitação metafórica da substância
do inexistente e a maior imagem que talvez possa existir, a ressurreição.”
§
"Se
ao final de sua vida, um escritor acredita ter esclarecido ou
aumentado o fluxo criador de sua época - ou, mais simplesmente,
de seus amigos - sentirá como se sua obra houvesse produzido
um acréscimo, um desenvolvimento, e essa é a sua
principal utilidade. Fazer parte de um estilo, somando a ele,
levando-o a sua plenitude, propicia sentir, como esboça
o soneto de Mallarmé dedicado a Poe, as mutações
e a eternidade girando incessantemente em seu mais secreto ordenamento".
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E-
Duplo erro, sedento
O
erro compreende a sua figura
no centro novo e na esfera nova.
Duplo erro, sedento
movem-se os números na parede
da recordação exata e as boas-vindas.
Risco novamente aquelas letras
do convite com que amanheciam
as nuvens novas e a dulcificada
roda da tortura.
Onde se alojaram os mistérios,
as noites gêmeas e as coleções
de ídolos perenes?
A roda da poderosa nuvem imperial
o parafuso já não golpeia
as costas densas.
O parafuso que rompe o mar em dois:
os poderosos deuses abolidos
e o presságio que toca e persegue.
Gira a nuvem sob o sonho
e ali investe contra novos reinos
da pronunciada melodia.
Depois do cordeiro recém-nascido
sem perguntas na apaziguada prata,
os impérios do carvão, os nebulosos
paraísos sem proporção e justiça.
Aqueles que esquecem que a elegância,
veado alimentado de orvalho ou polpa de neve
cortesã, é o ser iminente que penetra
na nuvem central, o corpo da amêndoa:
a soberania celestial do fogo em evasão.
Fugia da terra grávida,
sedento Marco Pólo entre carbúnculos,
estabelecendo os limites do sonho vago.
Acreditava que encontraria entre as rochas douradas
o peixe ainda sonâmbulo e separado
- única espécie de um metal vivo -
da noite e a sua sombra dançante.
Ali nas flautas a maldição nascente
e a nova cidade do corpo em fúria,
as pontes sombrias onde animais de canela
destroem na noite as coleções de porcelana.
Aberta ali, no instante em que a flor
assimila e se une ao inseto,
grandes pirâmides de orvalho
o golpe que engendra o cravo.
Ecos desabam, rumoroso presságio,
recua a extensa coluna de um fogo trêmulo
incha em ti, soluça o murmúrio,
invoca a ternura dos véus da água.
E as ninfas entre água e escuridão
transbordam de graça e som, os seus mantos,
os cabelos eternos diante do espelho, dizem:
define-me, não é nos meus passos, é na estátua
onde o tempo me devora e na areia
que cai das mãos que está o tempo predileto,
o único tempo criador sem o seu par e não o flanco
sangrando até o crepúsculo, e à nossa frente:
a estátua desconexa e um só centro .
A
cavalaria provoca um remoinho
e se inclina à vista das águas não tocadas
a lua o inseto, e o cavaleiro.
O que declina à deriva até o centro.
O nu se nutre dos seus vestígios.
A lua, sonho duplo da lua vagarosa,
desce tocando as folhas diante dos amantes.
As folhas pintadas pelos címbalos do exílio
fabricam a areia e deslocam a chuva!
(Trad.
Jorge
Henrique Bastos)
A
Prova do Jade
Quando cheguei à subdividida casa
onde tanto poderia encontrar o falso
relógio de Potsdam os dias de visita
do enxadrista Von Palem, ou o periquito
de porcelana da Saxônia, favorito de Maria Antonieta.
Estava ali também, em sua caixa de pelúcia
negra e de algodão envolto em tafetá branco,
a pequena deusa de jade, com um grande ramo
que passava de uma para a outra mão mais fria.
Ascendi-a até a luz, era o antigo
raio de lua cristalizado, o gracioso bastão
com que os imperadores chins juravam o trono,
e dividiam o bastão em duas partes e a sucessão
milenária seguia subdividindo e sempre ficava o jade
para jurar, para dividir em duas partes,
para o yin e para o yang.
Mas o provador, ocioso de metais e de jarras,
me disse com sua cara rápida de coelho cor caramelo:
apóie-se na face, o jade sempre frio.
Senti que o jade era o interruptor,
o interposto entre o pascalino entre-deux,
o que suspende a afluência claroescura,
a espada para a luminosidade espelhante,
a sílaba detida entre o rio que impulsa
e o espelho que detém.
Dá prova de sua validez pelo frio,
isca para o coelho úmido.
Todas as jóias na lâmina do escudo:
matinal o coelho oscilando
seus bigodes sobre uma espiga de milho.
Que começos, que ouros, que trifólios,
o coelho, a rainha do jade, o frio que interrompe.
Mas o jade é também um carbúnculo entre o rio e
o espelho,
uma prisão de água onde se espreguiça
o pássaro fogueira, desfazendo o fogo em gotas.
As gotas como peras, imensas máscaras
às quais o fogo ditou as escamas de sua soberania.
As máscaras feitas realezas pelas entranhas
que lhes ensinaram como o caracol
a extrair a cor da terra.
E a frieza do jade sobre as faces,
para proclamar sua realeza, seu peso verdadeiro,
seu rastro congelado entre o rio e o espelho.
Provar sua realidade pelo frio,
a graça de sua janela pela ausência,
e a rainha verdadeira, a prova do jade,
pela fuga da geada
em um breve trenó que traça letras
sobre o ninho das faces.
Fechamos os olhos, a neve voa.
( Trad. Haroldo
de Campos)
Chamado
do Desejoso
Desejoso é aquele que foge de sua mãe.
Despedir-se é lavrar um orvalho para uni-lo à secularidade
da saliva.
A profundidade do desejo não está no seqüestro do
fruto.
Desejoso é deixar de ver sua mãe.
É a ausência do acontecido de um dia que se prolonga
e é na noite que essa ausência vai afundando como um punhal.
Nessa ausência se abre uma torre, nessa torre dança um
fogo oco.
E assim se alastra e a ausência da mãe é um mar
em calma.
Mas o fugidio não vê o punhal que lhe pergunta,
é da mãe, dos postigos fechados, que ele foge.
O descendido em sangue antigo soa vazio.
O sangue é frio quando desce e quando se espalha circulizado.
A mãe é fria e está perfeita.
Se for por morte seu peso dobra e não mais nos solta.
Não é pelas portas onde assoma nosso abandono.
É por um claro onde a mãe ainda anda, mas já não
os segue.
É por um claro, ali se cega e logo nos deixa.
Ai do que não anda esse andar onde a mãe não o
segue mais, ai.
Não é desconhecer-se, o conhecer-se segue furioso como
em seus dias,
mas segui-lo seria o incêndio de dois numa só árvore,
e ela adora olhar a árvore como uma pedra,
como uma pedra com a inscrição de antigos jogos.
Nosso desejo não é pegar ou incorporar um fruto ácido.
O desejo é o fugidio
e das cabeçadas com nossas mães cai o planeta centro de
mesa
e de onde fugimos, se não é de nossas mães que
fugimos,
que nunca querem recomeçar o mesmo jogo, a mesma
noite de igual ilharga descomunal?
(Trad.
Josely
Vianna Baptista)
.
Ah, que você escape
Ah, que você escape no instante
em que tenha alcançado sua melhor definição.
Ah, minha amiga, não queira acreditar
nas perguntas dessa estrela recém-cortada,
que vai molhando suas pontas em outra estrela inimiga.
Ah, se fosse certo que, à hora do banho,
quando, em uma mesma água discursiva,
se banham a imóvel paisagem e os animais mais finos:
antílopes, serpentes de passos breves, de passos evaporados,
parecem entre sonhos, sem ânsias levantar
os mais extensos cabelos e a água mais recordada.
Ah, minha amiga, se no puro mármore das despedidas
tivesses deixado a estátua que poderia nos acompanhar,
pois o vento, o vento gracioso,
se extende como um gato para deixar-se definir.
(Trad. Claudio
Daniel)
Excertos do cap. VII do romance «PARADISO»
Dona Augusta preocupava-se com que a comida fosse a certa para um dia
especial, embora sem perder a simplicidade familiar. Esta qualidade
excepcional aparecia na toalha de renda, na louça com motivos
verdes, filetes limitados por outros dourados. O esmalte branco, limpo
especialmente para cintilar no jantar, resgatava na variação
dos reflexos a multiplicidade dos rodos aproximados do fugitivo deslizar
da própria imagem...
O falecimento de Cembita, a filha do ouvidor, a toalha, que lembrava
a época das golas canuladas, passara a pertencer a D. Augusta,
que só a exibia em ocasiões extraordinárias, como
as que vira na juventude. No dia do primeiro convite para comer na casa
da filha do ouvidora Andrés Olaya, aquela toalha, que Augusta
recordava com bordados de uma magia volante, apresentava a delicada
paciência na sua elaboração, como se, distante de
ser desfeita cada noite, como o tecido de uma das memoráveis
esperas, continuasse durante noites eternas, em que as abelhas segregassem
uma estalactite de incríveis fios entretecidos.
D. Augusta destapou a terrina, de onde se erguia o vapor de uma espessa
sopa de banana. – Queria rejuvenescer todos – disse –
transportando-os à primeira infância e, para tal, pus na
sopa um pouco de tapioca. Sentir-se-ão como crianças e
vão começar a elogia-la como se a descobrissem pela primeira
vez. Pus algumas folhas de rosas de milho, pois há tantas coisas
de que gostamos quando éramos crianças e de que, infelizmente,
não voltamos a desfrutar. Mas não se preocupem, não
é a conhecida sopa do oeste, pois alguns gourmets, mal vêem
o milho, pensam ver logo as carroças das emigrações
para o oeste, no princípio do século passado, nas pradarias
dos índios sioux – ao dizer isto, olhou para a mesa dos
meninos, pois de forma intencional, acabara a sua tirada para apreciar
como se centralizava a atenção dos netos. Só Cemi
esticava o pescoço, querendo perseguir as palavras no ar, observava
depois os primos, sobresaltado de que não ouvissem a pequena
seta que a avó lhes tinha atirado. (...)
- D. Augusta preparou-nos tantas delícias que é necessário
ter cuidado com a embolia cerosa, a mais perigosa das conhecidas –
disse o doutor Santuce.
(...)
- Todos os males derivados do excesso de comida são inferiores,
dizia Hipócrates – acrescentou o odontologista Demétrio,
que sempre gostava de expor o seu conhecimento do corpo, discordando
do Doutor Santuce – do que os males derivados do execesso de não
comer. Acrescentemos outra opinião, agora a de um santo, Paulo
chmado de Tarso, que aconselha aquele que não coma não
fazer pouco de quem não come, aconselhando também vice-versa.
Após a opinião de um certo santo, a de um demônio,
Antônio Perez, o assassino que se revoltou, era de opinião
que só os estômagos digeriam veneno. É verdade que
José Marti adorava esta frase do secretário perverso.
É preciso ser muito secretário e muito perverso para se
apaixonar por uma vesga, sobretudo quando sabemos que esse olho vesgo
foi beijado por Filipe II, que o diabo não deixe de abençoar
pelos séculos dos séculos.
(...)
- Troquemos – intercedeu D. Augusta para encerrar com a ociosa
discussão – o canário incandescente peo lagostim
ensopado -. O segundo prato fez sua entrada; era um soufflé salpicado
de mariscos, decorado por cima com uma esquadrilha de lagostins, dispostos
em coro, unidos aos pares, distribuindo as pinças o vapor que
se erguia da massa compacta como um coral branco. Uma massa de camarões
gigantes, pescados pelos nossos pescadores que acreditavam ingenuamente
que toda a plataforma de coral da ilha se encontrava incrustada de camadas
de camarões, certamente tão grandes como os apanhados
pelos pescadores gregos nos cemitérios de camarões, pois
este animal, na idade madura, ao se aproximar a morte, deixa-se levar
pela corrente que o leva até profundidades rochosas onde ele
adere para morrer em conforto. Fazia parte também do soufflé
o peixe chamado imperador, que D. Augusta só usava quando se
cansava do pargo, cuja carne tinha sido extraída primeiro aos
círculos e depois desfiada; lagostas que mostravam o assombro
opalino com que as suas carapaças tinham recebido a interrogação
do caldeiro a queimar-lhes os olhos saltitantes.
Depois deste prato de uma tão lograda aparência de cores
vivas, num estilo flamejante já muito próximo do barroco,
permanecendo gótico através do torneado da massa e pelas
alegorias esboçadas pelos lagostins, D. Augusta quis que o ritmo
da refeição abrandasse com uma salada de beterraba que
recebera o toque amarelo da maionese, intercalada com aspargos de Lubeck.
Foi então que Demétrio cometeu uma gafe: ao espetar a
beterraba a rodela saltou inteira, quis retificar o erro mas a massa
avermelhada, picada irregularmente, voltou a sangrar(...)
Ao misturar-se a cor creme ancestral com a cor eclesiástica da
beterraba, ficaram marcadas três ilhas de sangue sobre as rosáceas
rendadas. Mas estas três manchas conferiram um verdadeiro relevo
de esplendor à comida. Na luz, na resistente paciência
do sangue vegetal, as três manchas entreabriram-se numa sombria
expectativa.
(...)
Cemi acabou de se vestir para o colégio e a mãe, à
passagem, mostrou-lhe o envelope que revelava certo apaziguamento num
efêmero espaço de tempo. Mas ele recordou apenas o torpor
da mão que tinha sacado da sua o lagostim para que se abraçasse
à base de cristal da fruteira. Até parece ver novamente
o lagostim trepando pela cascata da iridescência espargida pela
bandeja com frutos. A fruteira voltou a derramar uma cascata de luz,
mas agora o lagostim seguia, na refração das cores frutais,
em direção de um cemitério de coral.
(Trad. Jorge
Henrique Bastos)
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