César Vallejo

Esta página se deve a um grande embate sobre uma das maiores polêmicas envolvendo a literatura de cunho universal no que diz respeito a língua originalmente escrita da obra e sua tradução. Como apresentá-la ao leitor para que ele possa entender e absorver o seu significado pleno, a essência da linguagem incorporando todo o aspecto histórico e cultural do momento em que o autor a produziu, considerando expressões coloquiais de época, a sonoridade das palavras em cada idioma,  etc. ?

Bem, temos aqui, um poema de César Vallejo sob a ótica de dois grandes autores, colaboradores deste site. Vicente Franz Cecim, escritor premiado, autor da saga "Viagem a Andara" e Jorge Henrique Bastos, poeta residente em Lisboa, autor do livro "A Idade do Sol" e colaborador em Portugal do semanário Expresso.

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Considerando en frío, imparcialmente...

Considerando en frío, imparcialmente,
que el hombre es triste, tose y, sin embargo,
se complace en su pecho colorado;
que lo único que hace es componerse
de días;
que es lóbrego mamífero y se peina...

Considerando
que el hombre procede suavemente del trabajo
y repercute jefe, suena subordinado;
que el diagrama del tiempo
es constante diorama en sus medallas
y, a medio abrir, sus ojos estudiaron,
desde lejanos tiempos,
su fórmula famélica de masa...

Comprendiendo sin esfuerzo
que el hombre se queda, a veces, pensando,
como queriendo llorar,
y, sujeto a tenderse como objeto,
se hace buen carpintero, suda, mata
y luego canta, almuerza, se abotona...

Considerando también
que el hombre es en verdad un animal
y, no obstante, al voltear, me da con su tristeza en la cabeza...

Examinando, en fin,
sus encontradas piezas, su retrete,
su desesperación, al terminar su día atroz, borrándolo...

Comprendiendo
que él sabe que le quiero,
que le odio con afecto y me es, en suma, indiferente...

Considerando sus documentos generales
y mirando con lentes aquel certificado
que prueba que nació muy pequeñito...

le hago una seña,
viene,
y le doy un abrazo, emocionado.
¡Qué mas da! Emocionado... Emocionado...

§

Poema traduzido por Vicente Cecim:


Considerando a frio, imparcialmente,
que o homem é triste, tosse e, no entanto,
se compraz em seu peito avermelhado;
que a única coisa que faz é compor-se
de dias;
que é lúgubre mamífero e se penteia...

Considerando
que o homem procede suavemente do trabalho
e repercute chefe, soa subordinado;
que o diagrama do tempo
é constante diorama em suas medalhas
e, mal abertos, seus olhos estudaram,
desde distantes tempos,
sua fórmula famélica de massa...

Compreendendo sem esforço
que o homem fica, às vezes, pensando,
como querendo chorar,
e, sujeito a se estender como objeto,
se faz bom carpinteiro, sua, mata
e depois canta, almoça, se abotoa...

Considerando também
que o homem é em verdade um animal
e, apesar disso, ao se voltar, me dá com sua tristeza na cara...

Examinando, enfim,
as suas peças encontradas, sua latrina,
sua desesperação, ao terminar seu dia atroz, borrando-o...

Compreendendo
que ele sabe que o amo,
que o odeio com afeto e me é, em suma, indiferente...

Considerando seus documentos gerais
e olhando com lentes aquele certificado
que prova que nasceu muito pequenino...

lhe faço um sinal,
vem,
e lhe dou um abraço, emocionado.
Que importa! Emocionado... Emocionado...

§

Poema traduzido por Jorge Henrique Bastos:


Considerando fria e imparcialmente
que o homem é triste, tosse e
se compraz com o seu peito rubro
e a única coisa que faz é; compor-se
de dias
que é um mamífero sombrio e limpa-se...

Considerando
que o homem regressa suavemente do trabalho
como superior e sonha subordinado;
que o diagrama do tempo
é um diorama nas chapas metálicas
e os olhos perscrutaram, entreabertos,
desde tempos imemoriais,
a fórmula faminta da massa...

Compreendendo sem esforço
que o homem permanece, às vezes, pensando
quase a chorar
e, sujeito que tende a objeto,
torna-se um bom carpinteiro, sua, mata
em seguida canta, almoça e veste-se...

Considerando, também,
que o homem é, na verdade, um animal
e, apesar de tudo, ao se virar, lança-me com a sua tristeza
na cabeça...

Examinando por fim
as suas peças reveladas, a sua cloaca,
o desespero, acaba o dia atroz a defecar...

Compreendendo
que ele sabe como o desejo,
o odeio com afeto e, como me é indiferente...
Considerando os documentos gerais
e olhando com uma lente o certificado
que prova como nasceu pequeno...

faço-lhe um sinal,
vem!
e abraço-o com emoção,
com muita emoção.

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