No penúltimo dia do
ano de 1956
Desligado e frio como um rio qualquer,
ontem vi um homem,
nem sei se era um homem
vago peixe boiando.
Somente na incubada flauta
havia o engulho do mar
bêbado e vazio - búzio vazio
vaso sem uso de ramagem
ou do inverno sequer.
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A lágrima
Do morno coração nasceu
agora
temperada em brasa, angústia, sal
e sono, lâmina fina sobre o peito
e revolveu a terra e a infância espedaçada.
Cristina flor desamparada
és o silêncio todo, invulnerável
ou o eco
do trombone longe sufocando a tarde.
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Amargo
Há um mar, o dos velames,
das praias ardendo em ouro.
Há outro mar, o mar noturno,
o das marés com a lua
a boiar no fundo
o mênstruo da madrugada.
E afinal o outro, o do amor amargo,
meu mar particular, o mais profundo,
com recifes sangrando, um mar sedento
e apunhalado.
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1926 / 1959
Já então é tudo pedra
os dias, os desenganos.
Rios secaram neste rosto, casca
de barro, areia causticante.
E onde outrora o mar
- os olhos - búzios esburacados.
E tudo é duro e seco e
oco,
o sexo enlouquecido
0 osso agudo
coberto de pó e de silêncios.
Havia uma ferida, a
primavera
que já não arde nem desfibra - seca
a flor amarela escura
anêmica impura
- rato no deserto
caveira de pássaro
exposta na planura
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