Não estou
convencido da necessidade de mudar a prosa ou o verso. Mas, como por aqui, em matéria de
principalmente não existe nada como certas coisas, navegar é preciso e reinventar
sempre, também. Por isso mesmo é preferível, mil e duzentas vezes, contar as histórias
de Mary, da Mara e da Silly Cone, do que repetir a sopa de letrinhas servidas no catálogo
da exposição de pinturas inaugurada no dia 13 de junho, em Belém-Pará, num ponto
eqüidistante entre o guamá (Rio) e o Guajará (Baía), onde Jorge Eiró encontrou quase
todos os caquinhos de uma identidade saqueada. Vamos Então, Por Partos:
No primeiro, abortado em 26
de agosto de 1994, na galeria Theodoro Braga, em Belém-Pará, Jorge Eiró apostou todas
as fichas de maior valor em um contexto de convivência entre o permanente e o
temporário, entre a construção e a ruína e entre o presente e o passado. E perdeu
porque a noite se instalou e nos esquecemos de lançar alguma luz! Ou alguém ainda se
lembra daquele mármore oval, com um lápis gasto colocado na vertical, denominado
fóssil?
Na segunda parte, mesma
galeria Theodoro Braga, Jorge Eiró chegou enfrentando os cavaleiros do após-calypso com
coisas duras e ditas sem metáforas. Salvo engano, nesse 13 de junho, começou inaugurando
sério e definitivo processo de exorcização de todos os homens e mulheres de má vontade
ou pobre de espíritos, cujas aparências equivocadas já não enganam. Sem essa assepsia,
é de lamentar-se que o diálogo resvale para as veias...de fato e mais se fragmenta a
construção de um discurso sobre a vida, abaixo da linha do equador.
No terceiro aparte, as
palavras pintadas no ``paraíso" ou nos ``tacos" resultam de uma laboriosa
arqueologia da alma e do sentimento. Retratos do autor, portanto. E de um pintor, como
Jorge Eiró, que não divide nada com a transpiração, na medida que tudo é pensado e
executado como o desejado. EX-HUMUS, PARADISE e EXTRANGEIRO são as mais recentes palavras
complementares pintadas para testar as reações do mundo acidental neo-contemporâneo. Ou
como já foi feito, a mesma corrente proposta endereçada aos que precisam ver uma pintura
cuja pintura mais lenta (ou atenta?) decifrará os sinais mais íntimos de que o futuro
foi construído como imagem do passado. Talvez por isso, depois da fratura exposta, e a
partir de pequenos prazeres as esperanças terrenas fiquem mais azuis.
Gileno Chaves.
1996 |
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