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Houve um tempo de Fundo de Gaveta. 
Houve um tempo de pardais, 
e a midia estava lá...

Biratan Porto

Uma alternativa para poetas inéditos

Nesta noite, depois das 20:00 horas, oito poetas estarao lançando, na Casa do Choro, uma nova proposta em termos de divulgaçao da obra poética: o "Fundo de Gaveta", a poesia em envelope, uma via para aqueles que tem suas obras guardadas nos fundos de gavetas, por falta de oportunidade.

A 1a ediçao do "Fundo de Gaveta" traz obras de Vasco Cavalcante, Jorge Eiró, Paulo Castro, Zé Minino, Celso Eluan, Yrú Bezerra, Aglair Porto e Te. Após o lançamento, os autores do "Fundo de Gaveta" vao vender a obra em sistema de mutirao, em bares, lanchonetes, nas faculdades, no comércio, nas praças, procurando um público novo, e fugindo da poeira das prateleiras das livrarias.

O preço da obra, dizem Vasco Cavalcante e Jorge Eiró, é o de "uma cerpinha - cem cruzeiros". O Fundo de Gaveta é mais uma produçao alternativa, fruto da geraçao mimeógrafo, que foge ao academicismo e busca novos caminhos para a divulgaçao cultural.

 (A PROVÍNCIA DO PARÁ - DEZ /1981).

 

Fundo de Gaveta 
lançamento do 1o pacote 
na Casa do Choro as 20:00 h.


Envelopar poemas, e vende-los pela cidade, em bares, praças,
no comércio, na universidade, onde encontrassem compradores,
por um preço acessível - cem cruzeiros
.

 

A divulgaçao da produçao cultural é um dos grandes obstáculos de todos os artistas. Conseguem alcançar o público um reduzido número de produtores que conseguem ter acesso aos meios oficiais ou comerciais de produçao, e muita criaçao importante é condenada ao desconhecimento do público, jazendo no "fundo da gaveta". Essa é a luta dos produtores independentes, que em todas as formas de arte encontram outros caminhos de divulgaçao de seus trabalhos. Alguns conseguem exito, outros continuam anônimos, seja pela falta de valor artístico da produçao, seja pela fórmula errada de divulgaçao. Existe mesmo um poeta que vende seu produto dentro de vidro de "picles", e aí nao se sabe se o melhor é o produto ou a embalagem.

A fórmula encontrada pelo grupo do Fundo de Gaveta, foi a de envelopar seu trabalhos conjuntos, e vende-los pela cidade, em bares, praças, no comércio, na universidade, onde encontrarem compradores, por um preço acessível - cem cruzeiros.

Sao as ediçoes "Fundo de Gaveta", abertas para todos aqueles que tem seus trabalhos engavetados, a espera de uma oportunidade de divulgaçao. A 1a ediçao foi lançada na semana passada, na Casa do Choro, e os produtores conseguiram vender bastante. Agora vao se lançar pela cidade, a procura de público.

(A Província do Pará - dez/1981).

... 

LITERATURA
Nos pacotes da poesia, o início 
de um movimento paraense de arte.

VASCO CAVALCANTE, CELSO ELUAN, ZÉ MININO, JORGE EIRÓ
Vasco Cavalcante, Celso Eluan,
Zé Minino, Jorge Eiró


Uma proposta nova, e com a força suficiente para se transformar num dos mais ativos projetos poéticos da regiao completou nesta semana um ano de intensa atividade. Trata-se da experiencia poética "Fundo de Gaveta", que tem a frente os poetas Jorge Eiró, Zé Minino, Vasco Cavalcante e Celso Eluan.

Na última segunda-feira, como fazem habitualmente a mais de um ano, os poetas se reuniram em casa de Jorge Eiró e conversaram sobre assuntos diversos, aliás, "de versos", como gosta de dizer o Jorge. Durante o encontro, os poetas falaram acerca de suas dificuldades e das lutas que tiveram de levar para conseguir manter o "Fundo de Gaveta" como um movimento ou grupo (isso nao é tao importante) coeso e forte.

As histórias do Fundo de Gaveta começou mais ou menos há dois anos, quando os poetas se conheceram, e tempo em que foi editado o pacote de poemas "Sangria", com trabalhos de Vasco Cavalcante e Paulo Castro. "Eu havia chegado de férias, quando apareceu a idéia do Sangria, disse Vasco, explicando que, o pacote deu tanto trabalho, que talvez nao tenha mais aquele pique para fazer outro igual".

Sangria - envelope poético

SANGRIA - 06/1980

Na verdade, o "Sangria" foi uma espécie de pontapé inicial para que os poetas se animassem e tirassem os trabalhos do "fundo das gavetas". Assim, o primeiro "pacote poético" foi lançado há um ano, e alcançou uma receptividade muito boa. O número dois, editado há cerca de dois meses, também segue os caminhos do primeiro e está vendendo bem.

Com os poemas impressos em off-set, o pacote de poesia se caracteriza por seu trabalho independente, com custos reduzidos, de modo a tornar a produçao viável.

Hoje, um pouco distante das propostas iniciais, o "Fundo de Gaveta" é o espaço alternativo para publicaçao de poemas e textos em prosa. Contudo, o caráter de "espaço alternativo" lhe confere uma espécie de rigor na seleçao do que vai ser publicado. Afinal de contas, esse trabalho tem que se impor pela qualidade.

No começo as pessoas que enviaram trabalhos e estes nao eram publicados ficavam aborrecidas com a gente, conta o Vasco, explicando que "todo mundo que escreve se julga um bom poeta". "Escrever muita gente escreve, acrescenta Jorge, afirmando que poucos conseguem chegar a poesia". Entre os bons poetas que já apareceram no "Fundo de Gaveta", a turma que coordena a seleçao aponta Yru Bezerra, Fernando Jatene, Almir Gabriel Filho e Fernando Escócio.

Falando um pouco nos bons poetas de Literatura Paraense, a turma do "Fundo" destaca Max Martins e Age de Carvalho como os mais atuantes, e os que mais saudavelmente tem influenciado a nova geraçao. "Max e Age exercem influencia sobre quase todos os poetas, diz Celso, explicando que o mais importante é o cara saber traduzir de maneira pessoal e criativa as influencias. Enfim, diz ele, é preciso criar".

Ainda falando da influencia de Max e Age de Carvalho, o grupo explica que o que existe é uma mistura de influencias (ingredientes - como gosta Celso) que formam uma grande batida, que depois vai se transformar em poesia.

Como o tema da conversa era literatura paraense, o grupo lembrou o nome de grandes poetas dessa terra e que estao esquecidos. Eles falaram de Mário Faustino (de quem só conhecem o pensamento artístico, nao a poesia), Paulo Plínio Abreu ( de nome) e Joao de Jesus Paes Loureiro (o mais próximo) e que ainda se encontra livros a venda. Aliás, esse é um problema sério, dizem eles. "Só se consegue livro de autor paraense se for ao lançamento, de outro jeito, nao!".

Aproveitando sempre a deixa de um assunto (no caso, livros) os poetas contaram que ainda pretendem sair com um "Fundo de Gaveta" em forma de livro, porque "de repente a venda só dá para cobrir as despesas, e um livro talvez de uma idéia de trabalho acabado, quando o nosso ainda está em processo de amadurecimento".

Além desse motivo, a turma do "Fundo" está passando por uma fase bastante fértil de criatividade, e nao seria interessante parar agora a produçao para publicar poemas que poderiam ser aperfeiçoados. De qualquer maneira, os poetas nao descartam a possibilidade de "de repente, lançarem o número tres do Fundo de Gaveta".

Em livro ou em pacote, o "Fundo de Gaveta" já é uma marca de qualidade, que traz consigo a experiencia de jovens poetas, que pretendem trocar informaçoes e fazer experiencias poéticas, mas nao escrever um livro a oito maos. Afinal, diz Zé Minino, "o senso crítico existe, e está baseado naquilo que voce le. Dentro desse contexto se conseguem um diálogo, a harmonia vem pela seleçao que é feita em conjunto e segundo o gosto comum".

Como a fórmula de fazer poemas e publicá-los em pacote deu certo, a turma do Fundo está abrindo possibilidades para divulgaçao de textos em prosa e até mesmo fotografias. Finalmente, o grupo apresenta a sugestao para que poetas se reúnam e façam um trabalho semelhante, que talvez forme o embriao para a formaçao de um grande movimento em favor da poesia no Pará.

(O Liberal - 1982).

  

 

ORGANIZAÇAO POÉTICA

O grupo "Fundo de Gaveta"
celebra dois anos de atividades


CELSO ELUAN, JORGE EIRÓ, YRÚ BEZERRA, VASCO CAVALCANTE

Sem maiores alardes, a turma do "Fundo de Gaveta" comemorou anteontem os dois anos de fundaçao do grupo, que é formado por Jorge Eiró, Vasco Cavalcante, Celso Eluan, Zé Minino e Yru Bezerra.

A idéia de formar uma equipe que se dispusesse a estudar e a trabalhar pela boa poesia reuniu, em 1981, oito poetas que lançaram, de um modo muito original - sacos de papel - seus melhores poemas. Depois, o número cresceu para 14, e saía o segundo "pacote da poesia". Agora, no meio do ano, os cinco poetas lançaram um terceiro pacote, mais sofisticado, com envelope próprio e tudo, mostrando que essa é uma soluçao prática e econômica para vencer a crise e divulgar a poesia.

Muito estudo

Quando o pessoal do Fundo de Gaveta decidiu unir as forças e fazer um trabalho sério, baseado em pesquisas e muita leitura. Assim, para cumprir esse princípio, Jorge, Vasco, Celso, Minino e Yrú se reúnem semanalmente, numa espécie de "academia aberta", onde tudo, e a todos é permitido, em termos de literatura e das artes em geral. "Nao estudamos só poesia, explicou Jorge Eiró. Nos colocamos a par de tudo que está acontecendo no mundo das artes".

Cuidando de ampliar seus horizontes, os poetas do Fundo de Gaveta conseguiram, em apenas dois anos de muito labor artístico, um grau de amadurecimento que, sem leituras ou estudo, nao atingiriam só a inspiraçao ou com o trabalho artesanal. Além disso, a convivencia e o incentivo de Max Martins, Age de Carvalho, Vicente Cecim, Paes Loureiro e Ruy Barata, "a alta cúpula da poesia paraense", como diz Eiró, ajudaram bastante o desenvolvimento pessoal do grupo e de cada um.

Desde que começaram a se reunir, os integrantes do grupo sentem, e isso é declaraçao pessoal de cada um, que já nao sao os mesmos de há dois anos. "Mudamos muito, declara Vasco Cavalcante, contando que essa conclusao só foi possível graças a uma auto-critica consciente". Para fazermos essa auto-crítica tivemos de nos apoiar em muita pesquisa, porque é difícil criticar um trabalho com o qual estamos emocionalmente envolvidos. Custou mas conseguimos. E foi um trabalho consciente", acrescentou.

Para quem chega a este nível de consciencia, as críticas já nao sao mais um obstáculo muito sério a superar. Assim, eles encaram as acusaçoes de um provável elitismo com tranqüilidade, e com a certeza de que procuram fazer o melhor e abrir oportunidades a todos. "Só há um problema, adverte Eiró: "Todos nós estamos no mesmo barco, e muita gente num só barco ele acaba afundando".

Para solucionar o problema ele dá uma receita simples e muito prática: "Formar novos grupos". Isso nao é nem um pouco difícil e haveria, como há, espaço para todos. Agora, o difícil vai ser pegar o bonde andando" . '

Livro? Pode ser...

Consagrados com os famosos pacotes da poesia, os integrantes do Fundo de Gaveta nao pensavam, até meio o do ano, em mostrar aos leitores os poemas de outra forma que nao fosse nos "sacos" mas hoje, Jorge Eiró já admite que o próximo trabalho do "Fundo" venha a sair na forma tradicional. "Mas esse é um ponto de vista particular", adverte o poeta, enquanto Vasco Cavalcante diz que ainda está meio indeciso. "As pessoas cobram o livro, e isso me faz balançar", admite, sem querer chegar, de imediato a uma soluçao.

Se por um lado a idéia do livro ainda nao é aceita por todos do "Fundo", aparece, ao mesmo tempo, a dificuldade de encontrar envelopes bonitos para guardar os poemas. No último pacote, lembra Vasco, tivemos a maior dificuldade em encontrar os envelopes, e acabamos tendo que mandar fazer. Depois, foi mais trabalho para mandar dobrar e tudo..." "agora, reforça Eiró, é preciso haver um avanço. Jamais um retrocesso".

Como todos nós, os poetas também fazem planos para o ano novo, depositando nele esperanças de um mundo melhor, mais humano, e com mais poesia. Para isso, eles pretendem, em 1984, levar os poemas para o público de uma forma mais direta. Além disso, querem aumentar o intercâmbio com grupos de outros Estados, a fim de que seja divulgado, em Belém, o trabalho alternativo de outros poetas. "Pode ser que, dessa maneira, possamos divulgar também, lá fora, o que estamos fazendo aqui", concluiu Vasco.

 

 JORGE EIRÓ, CELSO ELUAN, VASCO CAVALCANTEJrge Eiró, Celson Eluan, Vasco Cavalcante

FUNDO DE GAVETA

Está acontecendo uma importante manifestaçao cultural na cidade, o grupo Fundo de Gaveta, de poesias e crônicas. Alguns jovens se reuniram e começaram a escrever e publicar, de maneira independente, poesias e crônicas do grupo e de amigos. Por sugestao de Vicente Cecim, o nosso contexto, fomos bater um papo com tres integrantes do Fundo de Gaveta: Vasco Cavalcante, Jorge Eiró, estudante de arquitetura e Celso Eluan, estudante de engenharia química. 27, 22 e 26 anos de idade, respectivamente. Ainda fazem parte do Fundo de Gaveta, Zé Menino, geólogo e Yrú Bezerra, químico industrial.

Neste bate-papo, o Fundo de Gaveta fala de seu trabalho, da poesia, e das dificuldades de se publicar um trabalho como o deles, por ser, a poesia, segundo eles, uma arte de "menor interesse" ao grande público.

Em meio ao texto da entrevista, nós mostraremos alguns poemas para que se tenha a idéia do movimento de expressao de arte, que esses jovens estao fazendo.

1  Eu acho que é algo inédito por aqui, um grupo de poesia. Já vimos grupos de teatro, música, dança... de poesia eu ainda nao sabia que existia. Como é que voces, de repente se uniram para fazer poesia e publicar livros de poesia?

- Acho que nós começamos em dezembro de 1981. É, foi isso mesmo, dezembro de 81. Nós nos reunimos e resolvemos lançar esse trabalho, com um livro contendo poesias nossas e de alguns amigos. Nós nao temos uma única tendencia literária, voce entende? É como falou Joao Paes Loureiro, nós temos um certo ecletismo de tendencias.

A proposta do terceiro número de nosso livro de poemas a sair dentro de pouco tempo, está bem mais próxima de um sentido "pop-urbano", ao contrário dos outros dois que foram feitos quase que numa festa, empolgados que estávamos com a possibilidade de divulgaçao de nosso trabalho. Isso incluía muitos poemas de muitas pessoas. Foram feitos artesanalmente, tínhamos o aval da Universidade para imprimir em off-set. Temos esse apoio até hoje, para o terceiro número.

2 Mas imprimir, é coisa fácil, nao? E a venda,  a divulgaçao, como é ?

- Aí vem o mais difícil. Nós fazemos de mao em mao, oferecendo na Universidade, no comércio e até em bares. Mas as pessoas nao entendem e muitas quando nos viam de mesa em mesa, oferecendo livros impressos de maneira artesanal, já diziam nao, logo de primeira. Uma vez, em um bar, nós fomos quase que... enxotados por um fregues, irritado, achando que talvez a gente fosse hippie ou vagabundo, sei lá. Mas nós distribuímos em bancas de revista e os livros tiveram boa aceitaçao por parte do público.

"Égua mana, se tu me desses um bago do brilho do teu sorriso, aí ... eu nem sei o que fazia ... eu acho que eu comia ... virava ele poesia e inventava uma riminha de certo te dizia: que um bago do teu sorriso tinha virado loucura na vidinha que eu vivia". Gabriel Gabriel, n° 02.

3 Essas pessoas que nao gostam de poesia, voces acham que nao conhecem, nao se sensibilizam com os sentimentos do poeta ou simplesmente nao se interessam?

- O que acontece na verdade é que a poesia nao interessa a uma sociedade de consumo, uma sociedade capitalista, por que a poesia nao serve para decorar uma casa, para ser usada como moda, sorvida, etc. Entao, em uma sociedade como a nossa tudo o que pode ser consumido é bem aceito, o que nao acontece com o que nao pode ser consumido, que dificilmente será aceito por essa sociedade de consumismo imediato. As coisas começam a interessar, se voce puder pregar na parede, pôr na  estante, mesmo que seja somente para mostrar aos amigos que sua estante está cheia de livros - mas que voce nao leu nenhum deles. Como a poesia nao tem esse lado consumista, é algo de muito interior, natural e sincero, as pessoas nao se interessam muito. Mas o que nós queremos mesmo é divulgar o nosso trabalho, tentar mostrar as pessoas o que fazemos em poesia e, eventualmente, crônica, sobre vários temas. Ninguém vai sobreviver da poesia, nao é?

"Elásticos membros blindados bailando plásticos. O aço do espinhaço derretido o frio acolhendome human atômica orgivagina nuclear. A paz mundial finalmente a bandeira branca erguida tremula no mastro do oh!ho megalito meu! A pomba da paz bicando o nervo de granito deste monumento aos mortos e feridos pela rádio atividade sexual. Erosao eroticancerosa das ideolorgias. "Jorge Eiró. n° 03.

4 O que significa a atividade literária para o grupo?

- Bom, a atividade literária, tanto de leitura quanto de criaçao, é extremamente solitária. É uma atividade de aproximaçao com a qual voce eventualmente conversa com alguém, discute em cima de um tema citado. Mas nao é isso que nos aflige, essa pouca aceitaçao da poesia, nem nós estamos interessados em forçar um apoio oficial, nada disso. Se um dia aparecer uma proposta de ediçao de nosso trabalho com tudo o que se tem direito, tudo bem, a gente nao vai recusar, mas ser um produto de consumo, nao é nosso interesse ainda. '

5 Lembro que o Fundo de Gaveta teve algumas participaçoes com trabalhos e com integrantes nas Coletivas Literárias que o professor Marbo Giannaccini promovia no Teatro Waldemar Henrique...

- É, a gente mostrava o nosso trabalho e recebia muita força de pessoas como Vicente Cecim, Age de Carvalho e de Max Martins. A partir daí, as pessoas começaram a ir atrás do trabalho, a procurar as bancas de revistas onde a gente vende os livros pelo processo de consignaçao. As Coletivas tiveram muita importância porque divulgou nosso trabalho, pois até entao, ninguém conhecia nada a respeito do Fundo de Gaveta.

"A loucura sempre naufraga na solidao dos mares e muitas vezes chega as praias num farfalhar de espumas. Serao os recifes espumas? A linguagem da rocha somente o silencio ouve e decodifica. Enfim... a morte da noite num homem sem máscaras o mito da morte sem músculos e lágrimas o ressuscitar de um peixe semen sem escamas. Enfim ... o (in) finito sem princípio nem fim". Yru Bezerra, n° 03

6 0 grupo é só voces ou outras pessoas podem participar de um lançamento do Fundo de Gaveta, sem ter vínculo com voces cinco? Pelo menos nesse último número eu observei somente trabalhos de Jorge, Vasco, Zé Minino, Celso e Yru.

- Bem, afinal, nós estamos um ano sem lançar um livro de poesias. Mas nesse ano, nós estivemos sempre juntos, estudando, analisando, enfim, com um trabalho conjunto. É de se esperar, portanto que quando a gente fosse analisar trabalhos de outras pessoas, encontrássemos algumas coisas que existiam nos nossos e a gente chegasse a conclusao de que a pessoa, por nao participar de nosso convívio durante esse tempo todo, nao conseguiu captar, perceber certas nuances, que nós, do Fundo de Gaveta, percebemos e adotamos. Entao, nesse ano que passou, o grupo se reunia, religiosamente, todas as semanas para trabalhar em cima do lançamento de nosso terceiro livro. Entao, o grupo ficou forte, unido, com um objetivo principal de trabalhar para um próximo livro. De repente, uma pessoa que viesse a chegar, fora dessas reunioes, estava completamente fora de nosso pensamento, de nossa linha crítica.

7 Passou entao a haver uma rigidez na seleçao de trabalhos?

- Nao, de jeito nenhum. 0 que aconteceu foi que esse convívio trouxe para nós um amadurecimento coletivo em espiral: Na realidade, nao existe uma linha e sim uma espiral de crescimento, onde nós olhamos para todos os lados, observando tudo. Nao significa como alguém pode supor que a gente estivesse seguindo somente um tipo de trabalho, esquecendo todas as outras produçoes literárias. Muito pelo contrário, desde Castro Alves ou qualquer coisa que pintar, a gente está lendo, analisando, vendo. Agora, a gente tem uma maior identificaçao com a poesia contemporânea, sem significar que iremos eternamente ficar somente com esse tipo de poesia. Nao queremos dizer que exista um movimento literário, apenas existe um grupo fazendo poesia, pesquisando e querendo se aprimorar na literatura. É fazer literatura por literatura, poesia por poesia, sem se preocupar com o engajamento político ou social que ela pode mostrar, se vai vender ou nao, se vai ter repercussao ou se nao vai, se vai nos fazer ficar famosos, ou nao. O importante é ter esse pique de produçao e ter também a satisfaçao de compartilhar isso com as pessoas que se interessem.

"Se me perguntarem um dia - A terra é redonda? Terei dúvidas e talvez diga : Lembro-me dela quando criança mas o planeta levanta-se hoje numa ganância vertical rompendo feérico o espaço (haveria naturalmente uma pequena luz artificial me iluminando) que meus olhos só veem retas arquitetadas em planos rudes e grosseiros - uma arrogância de concreto buscando atingir o infinito. - apenas um oito que tombou procurando conhecer seus limites". Celso Eluan, n° 03.

8 É muito difícil de entender "poesia contemporânea"?

- Nao é que seja difícil. As pessoas estao acostumadas com poesias fáceis, que entendem mais que rapidamente. Sem querer desmerecer ninguém, a nossa poesia exige um trabalho com a palavra, um trabalho de estruturaçao da poesia. Entao, muitas vezes a pessoa nao entende o que queremos dizer e por isso, critica, ignora.

"0 cine rola o fogo nas paredes que escoram o orgasmo do meu cérebro-pierrô - o carnaval das imagens -

o vídeo cassete dos homo sapiens no lençol da cama azul-batom. Ferve a onça e mela a fronha no tinir das portas das meninas ...

Zoar de buzinas, rush, campainhas, o som das aves agora distorcidos retos, duro, matemático rasga a tela na escuridao redonda das cadeiras. 0 pierrô muda a cena e corta os punhos na geraçao das formas que jaziam no corredor das avenidas". Vasco, n° 03.

9 Voces gostariam de destacar alguma coisa, especificamente?

- O que nos gostaríamos de ressaltar é que o trabalho que nós fazemos é realmente literário, sem conteúdo panfletário, pragmático, etc. Simplesmente a literatura pela literatura ou seja, a arte pela arte, sem compromisso ideológico que se vier a existir, é porque cada ser humano carrega dentro de si esse conteúdo ideológico que mesmo voce fazendo a arte pela arte, automaticamente coloca isso também. Como diz Drummond, as palavras existem em um reino mágico e para falar desse reino mágico, simplesmente voce precisa "colher" as palavras certas.

"Valas veias urbanas de homens com homens - Belo Horizonte - surpresos putrificadós.

Velas vias sagradas de homens para homens Velo Peló Horizonte - vivos entes.

Vilas vivas favelas de homens nos homens Pelo Horizonte - esperam famintos". 
Zé Minino, n° 03
.

 (Jorge Reis - A Província do Pará -1983).

 

I Coletiva de Literatura 
debate novos escritores paraenses

Local
Teatro Experimental Waldemar Henrique.

Coordenaçao
Marbo Giannaccini

Participaçao
Acir Castro, Joao de Jesus Paes Loureiro, 
Vicente Cecim e Fundo de Gaveta.
(1982).


Jorge Eiró, Zé Minino, Vasco Cavalcante, Celso Eluan, Josette Lassance
João de Jesus Paes Loureiro, Acyr Castro e Vicente Cecim

(FOTO: GERALDO RAMOS)


A primeira Coletiva de Literatura deste segundo semestre reuniu segunda-feira a noite, no Teatro Experimental Waldemar Henrique, sob a coordenaçao de Marbo Giannaccini, o crítico Acyr Castro, o poeta Joao de Jesus Paes Loureiro, o escritor Vicente Cecim e o grupo Fundo de Gaveta, integrado por jovens escritores paraenses, que deram início a um movimento editorial alternativo e independente, já tendo dois livros publicados. A situaçao do escritor no Brasil, hoje, sua relaçao com o público, a prática literária como funçao social e prazer estético, a luta por um lugar ao sol dos novos escritores entre nós, o papel do crítico, a colaboraçao da imprensa paraense na divulgaçao da literatura feita na terra - estes foram alguns dos temas levantados no encontro, que levou numeroso público ao Waldemar Henrique.

...

Os representantes do movimento "Fundo de Gaveta" falaram do início do grupo e dos meios que tem empregado para superar o desconhecimento do público e as dificuldades de editor entre nós.

- O "Fundo" nao tem um programa estético pré-fixado. Ele começou com a nossa necessidade de nos expressarmos. Nós tínhamos realmente muita coisa escrita no fundo de nossas gavetas e decidimos dar isso ao público, nos unirmos para tornar viável a publicaçao desse material. Lançamos um primeiro livro, com poemas dentro de um envelope, e depois um segundo livro, usando o mesmo recurso gráfico. Sao livros que nós mesmos fazemos, usando como no primeiro envelope, o mimeógrafo eletrônico e custeando por nossa conta.

A receptividade do público e o apoio da imprensa a iniciativa dessa natureza foram preocupaçoes manifestadas ao fim do debate.

De um modo geral um consenso se formou em torno da idéia de que, na imprensa local, falta uma ainda maior atençao para a área literária. Ocupadas pelas tarefas diárias do jornalismo noticioso, as redaçoes praticamente nao dispoem de tempo para dar atençao específica, e para a prática da crítica literária. E os jornalistas presentes constataram que, sendo, entre nós, os únicos meios impressos de que dispomos, cabe aos jornais locais cobrirem a falta de revistas e publicaçoes especializadas em literatura.


Yrú Bezerra , Fernando Jatene, Jorge Eiró, Zé Minino, Vasco Cavalcante e Celso Eluan
(FOTO: GERALDO RAMOS)

...

VII Coletiva de Literatura.
Escritores paraenses debatem problemas da nossa literatura.

Local: 
Teatro Experimental Waldemar Henrique.

Coordenaçao: 
Marbo Giannaccini

Participaçao: 
Max Martins, Benedicto Monteiro, Ápio Campos, 
Cláudio Barradas, Acir Castro, Joao de Jesus Paes Loureiro, 
Vicente Cecim, Profa Amarilis Sampaio e Fundo de Gaveta.
(1982).

CELSO ELUAN, JOSETTE LASSANCE, PAES LOUREIRO, ACYR CASTRO
Celso Eluan, Josette Lassance, Paes Loureiro, Acyr Castro

LITERATURA
O Pacote da poesia.
(1983)

O grupo Fundo de Gaveta acabou de lançar um pacote muito bem aceito por todo mundo. Um pacote que dá asas a imaginaçao e nao pede esforços de ninguém. Um pacote de poesia.

 

 "um olho na palavra, outro na vida".

A semana passada teve o marasmo por onde navegou a atividade cultural quebrado por um lançamento bastante esperado e por um concerto. Na sexta-feira, o grupo “Fundo de Gaveta” lançava na Galeria Ângelus do Teatro da Paz o seu terceiro pacote poético, enquanto que, no palco daquela centenária casa de espetáculos, o maestro Joao Bosco da Silva Castro regia uma brilhante apresentaçao do Madrigal da Universidade.

Formado por Jorge Eiró, Vasco Cavalcante, Yrú Bezerra, Zé Minino e Celso Eluan. o “Fundo de Gaveta” apareceu em 1981, diante da impossibilidade de editar em livro os poemas e crônicas dos jovens autores. Nessa época, o grupo reuniu o que havia de melhor em sua produçao e. num envelope, mostraram ao público um trabalho que pro­metia dar bons frutos.

Lançado o primeiro “pacote” de poesia, estava nascendo uma forma diferente de apresentar poemas. Agora, o “Fundo de Gaveta’ nao cogita em partir para publicaçao de um livro, já que o “pacote” virou uma espécie de marca registrada do “produto”.

Quando o “Fundo” lançou o segundo “pacote”, o interesse do público aumentou, e a tiragem foi toda vendida. “O bom nisso tudo, explicou Jorge Eiró, é que nao foram os amigos que compraram a nossa poesia (como no caso do primeiro pacote), mas pessoas que se interessavam pelo trabalho, e, como ele estava sendo vendido em bancas de revista, teve uma saída mais fácil do que se estivesse em livraria”

Falando em livraria, Vasco Cavalcante lembra que este terceiro “pacote” que inclui poemas e crônicas, será vendido em livraria e bancas de revista. “Um dia ainda quere­mos chegar as prateleiras da frente de uma livraria, diz o poeta, mostrando que ainda há necessidade de divulgar bastante os pacotes. “A nível nacional é importante que o trabalho seja conhecido, explica Zé Minino, falando que há necessidade de quebrar a barreira da falta de divulgaçao “Só assim poderemos falar em mercado”, acrescenta o poeta Minino.

MAIS UM PACOTE ? Nao, o pacote de poesia nao é mais um pacote” imposto ao público leitor. É um trabalho consciente, fruto da pesquisa e do labor artístico desses poetas que tem enfrentado muitas dificuldades para prosseguir em sua atividade. “É difícil até mandar fazer o envelope onde sao colocados os poemas, diz Jorge Eiró, mostrando que, por causa da parte colada, as máquinas impressoras nao recebem bem o papel”.

 Apesar dos tempos de cri­se em que vivemos, os poetas do Fundo de Gaveta encontraram motivo para uma boa brincadeira no caso dos “pacotes”, e lembram que quando lançaram o segundo número em julho do ano passado, o Governo também decretava a publicaçao de um “pacote” com medidas econômicas. Agora, quando editam o terceiro pacote, o Governo divulga o seu pacote econômico.

Finalizando, Jorge Eiró comenta. “É nao é por nada nao, mas o Brasil também foi ao Fundo...”

O professor e poeta Joao de Jesus Paes Loureiro leu os poemas e as crônicas do terceiro pacote do “Fundo de Gaveta” e escreveu “Açao Poética”, um texto que serve de apresentaçao ao trabalho:

Esta é a terceira publicaçao do grupo de açao poética “Fundo de Gaveta”. Um grupo que sem a preocupaçao teórica manifesta, preocupa-se acima de tudo, em fazer poesia. Um fazer que revela a experiencia que só a praxis criadora é capaz de oferecer. Isso nao impede é claro, que se veja essa produçao de poesia no contexto geral da produçao poética da modernidade.

Tem-se discutido a mis­sao social do poeta. Os concretistas viam no ato de o poeta impedir a dissoluçao da linguagem. Já por sua vez, Alfredo Bosi considera a missao social do poeta como a de “doa­dor de sentido”. O poeta é o nomeador. Seu espaço é o do desejo e o da liberdade, até onde a condiçao original de doador de sentido sobreviva. Sendo o nomeador, fará de seu discurso o discurso inaugural. Em todo caso, podemos lembrar um poeta que é também um importante teórico da poesia: Mário Faustino. Em um de seus “Diálogos de Oficina”, pela voz de um de seus personagens diz: “...parece-me lícita a posiçao do artista que coloca a poesia - seu principal instrumento de comunicaçao com o universo e os homens - a serviço daquilo que constitui sua própria verdade social, em política."

Max Bense observa que, no trato diário, os cidadaos interpretam a imutabilidade da linguagem vinculada a imutabilidade dos costumes. A classe que nao quer mudar, nao aceita a mudança da linguagem. Assim, acaba sendo a linguagem uma espécie de autoridade que mantém a ordem estabelecida. A poesia seria o instrumento capaz de romper com isso. Transformar os valores. Daí decorrer, como pensa Adorno, que mesmo que o poema nao seja diretamente engajado, é engajado.

Na verdade, é fato conhecido a afirmaçao de que o mundo capitalista, na medida em que acolhe a criaçao poética, é hostil a poesia. Entao, um dos mecanismos da poesia para nao se degradar, seria o hermetismo. Sendo poesia necessária, poderia sobreviver pela ambigüidade, pela convivencia com a negaçao, pela recuperaçao através do mito.

O Surrealismo e o Dadaísmo quiseram romper a arte como concepçao histórica, até entao mantida. Tentaram anular o antigo, embora nao sabendo ainda o que seria o novo. Mas, novo era o procedimento. Sua arma: a ironia. Que soluçao encontrar após tantos rompimentos? Uma anti-poesia? Uma nova austeridade? A destruiçao dos artifícios (o metafórico, os esta­dos elevados, o sujeito poético como emissor do discurso, o mito) numa poesia que se quer tao comunicável como o é a prosa? Uma sintaxe elástica? Uma expressao direta?

O grupo de açao poética “Fundo de Gaveta” procura observar ecleticamente essas tendencias. Há em seu trabalho atual, preocupaçao com a palavra, gosto pela espacializaçao, construtivismo, valorizaçao da estrutura do poema, espacializaçao expressiva retificaçao da palavra, cerebralismo na composiçao, idealismo poético, a volúpia da transgressao verbal, a linguagem como leito de prazeres, a exótica da defloraçao verbal. Em muitos casos o poema fecha-se sobre si mesmo, feito concha, um cofre que se contém, uma fechadura que se fecha. Em outros, abre-se a comunicaçao mais austera até os limites de uma poética da prosa. Há casos de uma dicçao debochadamente ao estilo Pau-Brasil, uma linguagem macunaímica (Pratos Regionais). Há muitos em que predomina o jogo dadaísta de palavra puxa palavra, um colar de sons enfiados pela linha dos versos, pelos linossignos. Encontramos exemplos de captaçao de impressoes urbanas (1a Carta Crônica) em fina ironia. E a aura perdida. Uma atmosfera de “Geléia Geral”, de Torquatos, de Caetanos. Sao freqüentes os casos em que o poético é revelado nos efeitos dos significantes ou recursos retóricos corno o eco e as assonâncias. ( efeito surreal decorrente de um deslocamento dos significados (monumento aos mortos e feridos/ pela rádio atividade sexual/ Erosao exóticancerógena/ das ideologias). Algumas estruturas passam a ser o próprio significado (“Sombras dessa rua”). A realidade oclusa (“Réquiem para 7 quedas”). O poder dramático aumenta­do pela composiçao indireta do poema. Ele é todo um só bloco metafórico. O dito pelo nao-dito. A dupla ausencia pois, no poema que celebra a ausencia de Sete Quedas, o re­ferido está ausente. Em casos como “o Cine, etc”, o poema desdobra-se como metáfora de um único verso: “— o carnaval das imagens — “. Esta é a chave que estrutura o livre, o logi-ilógico jogo de ritmos e idéias. Sao alguns exemplos. Sao lapidaçoes de um poliedro poético. Exemplos de uma atividade poética que, sem os nervos expostos de preconceitos que empedram a visao aberta da criaçao, mostram poetas que tem um olho na palavra e o outro na vida”.

 

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PQP vai ao Fundo...

Enquanto os carinhas reúnem-se para curtir suingantes, bailecos, 
esfuziantes motocas e carangas incrementadas , eles se enturmaram 
noutra: fazer poesia.

Esse o barato do Fundo de Gaveta
Uma turma aqui do pedaço que leva a sério essa prática hoje tao 
nostálgica de pensar e ter idéias. Com voces, Jorge Eiró, 
Yrú Bezerra, Vasco Cavalcante, Zé Minino e Celso Eluan
- o grupo Fundo de Gaveta.
Nosso convidado do mes.

Raimundo Mário Sobral
( jornal PQP - 1983).

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GRAPHO
F U N D O   D E   G A V E T A

YRÚ BEZEERA, VASCO CAVALCANTE, CELSO ELUAN, JORGE EIRÓ
YRÚ BEZEERA, VASCO CAVALCANTE
CELSO ELUAN, JORGE EIRÓ


Foi em dezembro de 1981 que surgiu o primeiro número do pessoal do Fundo de Gaveta, aquela época contando com mais integrantes e todos com dificuldades em publicar fora dos círculos oficiais. Optaram pela ediçao artesanal em pacotes, contendo os poemas impressos em forma de lâminas, soltas entre si, com a distribuiçao sendo feita pelas maos dos próprios poetas. Nenhum espanto: a maioria dos poetas no Brasil tem para si todos os encargos - impressao, veiculaçao, venda - de seus livros (quando vem na forma de livro, cada dia mais caro). O Fundo de Gaveta, com isso, sobreviveu e passa bem.

O segundo número veio no ano passado e, no início deste mes, saiu o terceiro. Hoje o grupo, reduzido a cinco poetas, pensa numa “nova linha de trabalho, estabelecida a partir de um renovado senso crítico, onde a seleçao dos poemas independe de quantidade de trabalhos apresentados por cada participante”, diz Vasco Cavalcante, um dos fundadores desse grupo que conseguiu quebrar um certo pudor do público leitor para com as ediçoes reconhecidas hoje como alternativas. Além dele, Celso Eluan, Jorge Eiró, Yru Bezerra e Zé Minino - todos integrantes do Fundo de Gaveta desde o seu nascimento - tem seus poemas espalhados pela cidade através desse novo tipo de ediçao, inaugurando aqui um surto que se desenvolveu na década de 70 por todo o País e alcançou a atençao pública com a publicaçao da antologia “10 Poetas hoje”, onde Heloisa Buarque de Holanda recolheu e organizou em volume trabalhos daqueles poetas ditos “marginais”.

O número mais recente do Fundo de Gaveta - que recebeu apoio da Imprensa Universitária, prefácio de Paes Loureiro e elogios de Ruy Barata - já está a venda em todas as livrarias da cidade.

 (Age de Carvalho - Grapho - A Província do Pará -1983)

 

 

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