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Réquiem à arte do Fundo de Gaveta
O GRUPO FUNDO DE GAVETA, ALTERNATIVA NA DÉCADA DE 80,
MATA SAUDADE HOJE COM UMA FESTA (19/10/1996)

Do fundo da escrivaninha para o tecido da luminosa malha cibernética, dos primeiros rabiscos à contagem regressiva do milênio, quinze anos já é a referência espaço-temporal que mede e conta a história do grupo Fundo de Gaveta, que no início dos anos 80 participaria de um efervescente momento cultural da cidade das mangueiras produzindo poesia marginal universitária.

Yrú Bezerra, Vasco Cavalcante, Celso Eluan, Jorge Eiró

O "Jubileu de Cristal" do grupo quase passaria despercebido não fosse um detalhe: hoje à noite vários integrantes da experiência estarão se reunindo numa grande festa na boate Baíto, do Parque dos Igarapés, com direito a telões, repertório variado e a apresentação do grupo Los Tres Amigos. A ocasião não poderia ser melhor: o 38º aniversário do cúmplice Celso Eluan, poeta que hoje dirige uma loja de informática.

A idéia para a comemoração, gerada num encontro de bar, há poucos dias, ganharia inesperada dimensão: além de hilários convites personalizados, a surpresa maior ficou por conta da criação de um site do Fundo de Gaveta, que mostrará a oartir de amanhã, para os fundos de quintais do mundo, alguns dos trabalhos editados pelo grupo nos três únicos números da publicação alternativa, feitos entre 1981 e 1983.

Vasco Cavalcante, Celso Eluan,  Yrú Bezerra, Jorge Eiró

"O Fundo de Gaveta fez parte de um tempo em que havia na cidade um movimento cultural em franca ebulição, ainda com a movimentção do bar 3x4, o início das oficinas de Miguel Chikaoka e a criação do Arte Pará. O grupo se reunia semanalmente para ler e discutir, poesias, artes plásticas, novos lançamentos e até bater bola, beber e etc. Depois da experiência cada um foi tomando seu rumo", lembra o artista plástico Jorge Eiró, que integrou o grupo juntamente com com nomes como: Vasco Cavalcante, Yru Bezerra, Zé Minino, Celso Eluan, Paulo Castro (William Silva) e outros colaboradores, a maioria integrante do meio universitário da Belém do final da década de 70 e início dos anos 80.

Vasco Cavalcante, Celso Eluan, Jorge Eiró, Yrú Bezerra

Totalmente alternativa, a primeira edição do Fundo de Gaveta foi feita em 1981 ao melhor estilo da geração mimeógrafo: de eventos realizados pelo grupo e coletas saíram os recursos para o projeto que retiraria de uma vez por todas do "fundo do baú" caseiro os urgentes trabalhos literários dos parceiros. "Todo mundo escreve algo e se acha poeta. Fizemos o lançamento na Casa do Choro e as coisas fugiram ao controle. Havia os varais de poesia na praça do Carmo e na praça da República... Saía-mos com os envelopes debaixo do braço e a edição era graficamente tímida, até pelos poucos recursos", conta Eiró, um dos responsáveis pela produção gráfica da publicação, simples e direta: se a idéia vinha do Fundo de Gaveta, nada melhor que um envelope guardando várias folhas soltas de poesia.

Celso Eluan, Jorge Eiró, Yrú Bezerra, Vasco Cavalcante

A receptividade à idéia renderia outra edição, no ano seguinte, desta vez produzida em off-set com o apoioda Gráfica Universitária da UFPa. "Preferiu-se conservar o purismo da idéia. Lembro que havia uma condição do grupo: que não constasse nenhum crédito na edição. Era um preciosismo alternativo", recorda Eiró, admitindo que a partir da última publicação do grupo, em 1983, a tendência da produção poética rumava para o formato "convencional" de um livro. "era uma questão de avanço de qualidade, e isto até foi discutido dentro do grupo. Já tínhamos contato com produções alternativas do Brasil inteiro. Uns achavam que o envelope era um sucesso, enquanto outros defendiam o livro como o melhor formato para a publicação de textos. Mas não se acabou por causa disto. Da mesma forma que surgiu, foi desfeito: naturalmente".

Celso Eluan, Jorge Eiró, Yrú Bezerra, Vasco Cavalcante

Com a maioria dos integrantes já rumando à aventura dos quarenta anos - alguns já desfrutam da condição -, vale conferir algumas trajetórias: o aniversariante Celso Eluan hoje é dono da Sol Informática, Jorge Eiró formou-se em arquitetura e é artista plástica reconhecido, Vasco Cavalcante é Web Designer, Yru Bezerra é químico farmacêutico, Zé Minino é Geólogo e Paulo Castro (William Silva) é jornalista.

Ciber-Fundo-de-Gaveta

"A idéia de um site na internet surgiu há uma semana sem objetivos maiores. Ninguém fez planos de volta do grupo", adianta o poeta Vasco Cavalcante, 40, sobre o site que estará publicando a partir da próxima semana, uma seleção de trabalhos representativos dos três volumes do Fundo de Gaveta, além de recortes de jornais da época e outras informações.

"Como todo site ele será atualizado sempre. A idéia não é ressuscitar o grupo. É abrir um espaço, talvez, para vários outros trabalhos. O mundo é outro, nós somos outros, a mídia é completamente outra. O curioso é a transformação de uma mídia de mimeógrafo, ultra-romântica, para o pós-moderno da internet. Estamos brincando com isto. Esta é a graça.

JUBILEU DE CRISTAL
(clique nas fotos para ampliá-las)

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