"(...) num ritual de corpo e alma, misturam-se canto, dança e poesia, que revelam ao homem o "Ad Infinitum"; com personagens alegóricos, o espetáculo reúne elementos poéticos e religiosos, onde a rítmica dos tambores, aliada à coreografia, entremeiam um ritual de símbolos e jogos de poder de personagens míticos, arquetípicos e divinos. A música e o canto aparecem como fortes elementos cénicos no espetáculo, a trilha percussiva de Vanildo Monteiro é fundamental para o tema, trabalhando tambores, marimbas e teclados. (...)"

Inserido na pesquisa da linguagem cênica que realiza na construção de uma linguagem corporal própria, o espetáculo Valsa de Sangue aprofunda a exploração do corpo do ator dançarino no binômio tempo/espaço e na relação homem/movimento, marca da Cia. Atores Contemporâneos.

A partir da estrutura da valsa, dança de par cuja origem nunca foi devidamente esclarecida e que causou escândalo durante o seu surgimento justamente pela forma enlaçada dos casais, os atores usam esta dança para atingir e afetar a emoção do espectador com uma narrativa não linear, rica de cortes e entrecortes, onde a idéia do não começo e não fim desenha o ciclo incessante da vida e o sentido das paixões humanas.

Os personagens dançados nesta valsa, em sua gramática corporal de grande senso de teatralidade e cuja qualidade emocional dá origem e sentido ao gesto, são marcados por uma atmosfera de sensualidade, seus estados de alma transformam-se bruscamente, revelando a divisão e a separação dos múltiplos casais que a valsa constrói e desconstrói a cada movimento do espetáculo.

Texto extraído do jornal O Liberal.