VERSO
6
Eu não posso colecionar
selos
Eu não posso colecionar fotos de mulheres
Eu não posso colecionar namoros
nem sabedoria
eu já não posso nada mais
eu já
não posso nada mais
Porque não apago a luz
e não
vou pra cama
Eu quero provar
estar
nú
pelado
quem sabe sim púrpura gelada
e palidez
Não é assim o próprio princípio principiante
Eu não quero saber nada
eu não quero perguntar
porque
eu não
me tornei um colecionador de selos
Eu começarei por dar meu fracasso
Eu começarei por dar minha falência
Eu me darei um pobre despedaço de terra
uma terra pisoteada
uma terra de urzes
uma cidade ocupada
Eu quero estar nu
e começar
(tradução de Philippe Humblé
e Walter Costa)
MELOPÉIA
Sob o luar escorre
o longo rio
Sobre o longo rio escorre cansada a lua
Sob o luar no longo rio escorre a canoa pro mar
Pela canalta
Pelo pradalto
escorre com a lua que escorre a canoa pro mar
Assim são parceiros pro mar a canoa a lua e o homem
Por que escorrem a lua e o homem ambos mansos pro mar
(tradução de Philippe Humblé
e Walter Costa)
PAISAGEM DE
OUTONO
Na neblina é devagar
um boi com um carro de boi
andando junto à neblina nunca perde o passo
o boi do carro de boi
Fora da neblina dentro da neblina com o carro tropeçando
firme não adormece o carroceiro
num sono sem trilhas
Atrás do carro bóia
luz de lanterna
uma mínima cunha de clareza na negrofunda rua
(tradução de Philippe Humblé
e Walter Costa)
O VELHO
Um velho na rua
sua pequena história para a velha
não é nada soa como uma tragédia rarefeita
sua voz é branca
parece uma faca tão longamente afiada
até o aço ficar magro
como um objeto fora dele se pendura esta voz
sobre o preto comprido casado
O velho magro em seu casaco preto
parece uma planta preta
Vê você isto joga a angústia por sua boca
o primeiro saborear de uma narcose
(tradução de Philippe Humblé
e Walter Costa)
NOITE
Ah, minha alma é
só som
Nesta hora de só cor;
Sons que se elevam soltos
Num sonso jardim de odor.
(tradução de Philippe Humblé
e Walter Costa)
POEMA
E cada nova cidade
flor que murcha
outono amarelece a flor
serão todas as cidades assim
serão todas assim
assim são todas
Em todo lugar
em todo lugar e em nenhum
todo lugar é nenhum
em todo lugar
os mesmos bombons tristes em copos
bebida fica pérola não há sede
uma canção está em todo lugar
de amor e adultério
serão todas as cidades assim
serão todas assim
assim são todas
(tradução de Philippe Humblé
e Walter Costa)
BERCEUSE PRESQUE NÈGRE
Não participa o
chipanzé
Por que não participa
o chipanzé
O chipanzé
tem
enjôo do mar
Tem tanta água no mar
imagina o chipanzé
(tradução de Philippe Humblé
e Walter Costa)
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