Nascido
em Gênova a 12 de outubro de 1896, Eugenio Montale teve a mocidade
marcada pela paisagem da Ligúria natal, as férias na casa da família
em Monterosso, nas Cinque Terre, a paixão pela música e as lições de
canto com o sonho juvenil de se tornar um barítono famoso, a pintura
que anos depois, na maturidade, vai produzir pequenos, requintadíssimos
quadros. Entre 1917 e 1919, breve parêntese como oficial na Primeira
Guerra Mundial, aquela guerra que, nos mesmos anos e nas mesmas
trincheiras, vira nascer o dolente patriotismo do soldado raso Giuseppe
Ungaretti. Nos anos a seguir haverá antes de tudo a procura de uma
colocação na sociedade e a escolha antifascista com a assinatura do
manifesto de Benedetto Croce. Haverá as dificuldades econômicas, as
viagens, a literatura inglesa como campo privilegiado de pesquisa, o
trabalho editorial e a atividade de crítico, literário e musical,
antes em Florença e depois em Milão, que a partir de 1948 será a sua
cidade de eleição. Haverá ainda as amizades escolhidas (Svevo, Pound)
e as várias musas: mas sempre com discrição e com uma fidelidade de
base à companheira esposa de anos, Drusilla Tanzi, a “Mosca” da
alcunha familiar, desaparecida em 1963. Só na última parte da vida é
que vão chegar os reconhecimentos oficiais, com a nomeação a senador
perpétuo do Parlamento italiano “por seus altos merecimentos no campo
literário e artístico”, em 1967 e com o Prêmio Nobel em 1975. A
morte o colherá em Milão em 12 de setembro de 1981. Ao longo desta vida e quase paralela, a obra. A poesia manifesta-se com aparições espaçadas. Jorra oficialmente em 1925 com Ossi di seppia (Ossos de siba), despedida lírico-subjetiva dos anos iludidos da mocidade e experiência de formas métricas em que a tradição aparece cônscia de todos os contributos das velhas e novas vanguardas, Só em 1939, em vésperas da Segunda Guerra Mundial, o segundo livro, Le occasioni (As ocasiões), que reúne os textos escritos entre 1928 e 1939 e em que a poesia, deixando o impressionismo dos Ossos, se torna abstrata e metafísica, pós-simbolista, com apelos a Eliot e à sua teoria do correlativo-objetivo. Em 1943, Finisterre, que depois, em 1956, constituirá a primeira parte de La bufera e altro (A tormenta e outras coisas). O novo Montale, mais coloquial, em que o desespero da primeira estação parece se ter dissolvido num auto-humorismo sem remédio e numa nova pietas para com os outros, homens e coisas, nasce com os Xênia (1966) e depois com Satura (1971). É talvez este o Montale, cantor ecumênico do desengano do nosso século, em que o mundo internacional se reconhece e identifica.
Luciana
Stegagno Picchio, |
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