Je bâtis ma demeure
(Construi minha morada),
1943-1957
L'eau du puits,
1955
L'Absence de Lieu, 1956
Chansons pour le repas de l'ogre,
1943-1945
Le Fond de l'eau,
1946
Trois filles de mon quartier,
1947-1948
La voix d'encre,
1949
La clef de voûte, 1949
Les mots tracent,
1943-1951
L'écorce du monde,
1953-1954
Le milieu d'ombre, 1955
Du blanc des mots et du noir
des signes, 1953-1956
Petites incursions dans le monde des masques et des mots, 1956
Le pacte du printemps, 1957
Le Livre des Questions I, II, III,
(O Livro das Questões),
1963 - 1965
El ou le Dernier livre, 1973
Récit, 1980
Le livre des marges, 1987
La mémoire et la main, 1974-19891973
I. Des deux mains, 1975
II. Le sang ne lave pas le sang, 1976-1980
Le Livre des Ressemblances,
(O Livro das Semelhanças),
1980
Le Livre des Questions IV,
(O Livro das Questões),
1983
Le Livre du dialogue, 1984
L'appel, 1985-19885
Le Livre du partage,
1987
Un Etranger avec, sous le bras,
un livre de petit format,
1989
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"Tu és aquele que escreve e que é escrito." |
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"Não negligencia o eco, pois é de ecos que tu vives." |
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"O livro nos lê." |
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"A arte do escritor consiste em provocar, pouco a pouco, as palavras a se interessarem por seus livros." |
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"As palavras elegem o poeta." |
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"A imagem é formada de palavras que a sonham." |
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"Só o leitor é real." |
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TERRENO VAGO...
Terreno vago, página obsedada.
Uma morada é uma longa insônia
No caminho encapuzado das minas.
Os meus dias são dias de raízes,
São jugo de amor celebrado.
O céu está sempre por atravessar e
O terraço por nutrir de noites novas.
De meu vagar o luto forma
Enclave no clarão opaco das paredes.
A terra embebe-se em
Vãs visões de viagem.
(tradução:
Mário Laranjeira)
.
CANÇAÕ PARA UMA NOITE DE LUAR
Tu deslocas as ruas.
A cidade é um labirinto.
Sempre acabo em tua rua.
Tu mudas de nome.
Os dias são meus degraus.
Tua janela é tão alta.
Perco-te de vista.
À tua porta, um ladrão
ataca a fechadura.
Circundas meus sonhos.
Escapas à terra,
Ao inverno, às lágrimas.
(tradução: Mário Laranjeira)
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NOITES DE CONCRETO OU
PALAVRAS ESTRANGEIRAS
(fragmento)
Eu me curvo sobre a palavra de finas escamas
No mar a palavra atordoa
Ela foge por entre os dedos do curioso. Ela vigia o anzol
O pescador é o intruso o monstro
Levanto meus olhos para a palavra de belas plumas
No espaço ela está por um fio por um espanto
Ela vigia o caçador a tempestade O fuzil como a chuva tem pupilas
que matam
Capturo a palavra desprevenida
Ela tem um porto de ilha
pernas secretas de areia
um torso de vela
Tem olhos de gaivota
e grandes mãos vazias
onde se refugia o mundo
Segui a palavra por tantos caminhos
Ela se deteve uma vez para me sorrir
Ela não tinha cabeça
nem nuca
Não tinha braços
nem pernas
e minha boca surpresa
modulava seu nome
(tradução: Mário Laranjeira)
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NÃO SE PODE FALAR DO DESERTO...
(fragmento)
Não se pode falar do deserto como de uma paisagem, pois ele é, apesar de sua variedade, ausência de paisagem.
Essa ausência concede a ele sua realidade.
Não se pode falar do deserto como de um lugar; pois ele é, também, um não lugar; o não-lugar de um lugar ou o lugar de um não-lugar.
Não se pode pretender que o deserto seja uma distância, porque ele é, ao mesmo tempo, real distância e não-distância absoluta por causa de sua ausência de marcas. Ele tem, como limites, os quatro horizontes, sendo o que os liga e os separa. Ele é sua própria separação onde ele se torna lugar aberto; abertura do lugar.
Não se pode pretender que o deserto seja o vazio, o nada. Não se pode, tampouco, pretender que ele seja o término, uma vez que ele é, igualmente, o começo.
(tradução: Caio Meira)
.
A CANÇÃO DO ESTRANGEIRO
Estou à procura
de um homem que não conheço,
que nunca foi tão eu mesmo
quanto desde que comecei a procurá-lo.
Teria ele meus olhos, minhas mãos
e todos esses pensamentos semelhantes
aos destroços deste tempo?
Estação de mil naufrágios,
o mar deixa de ser mar,
para tornar água gelada dos túmulos.
Mas, mais longe, quem sabe mais longe?
Uma menina canta a contragosto,
enquanto a noite reina sobre as árvores,
pastora em meio a seus carneiros.
Venham arrebatar do grão de sal a sede
que nenhuma bebida poderá mitigar.
Com as pedras, um mundo se devora
para ser, como eu, de parte alguma.
(tradução: Caio Meira)
.
Deixei uma terra que não era a minha
por outra à qual também não pertenço.
Refugiei-me num vocábulo de nanquim,
e tenho o livro como espaço;
palavra de lugar nenhum, obscura fala do
deserto.
Não me cobri durante a noite.
Nem mesmo tentei me proteger do sol.
Andei nu.
De onde eu vinha, não fazia mais sentido;
Aonde eu ia não incomodava ninguém.
Vento, digo-lhes, vento.
E um pouco de areia no vento!
(tradução: Caio Meira)
.
Ele tinha - parecia-lhe - mil
coisas a dizer
a estas palavras que não diziam nada;
que esperavam, alinhadas;
a estas palavras clandestinas,
sem passado ou destino.
E isto o perturbava ao desatino;
a ponto de não ter, ele próprio, mais
nada a dizer,
então.
(tradução: Caio Meira)
A QUEM SE FALA QUANDO SE ESCREVE...
(fragmento)
- A quem se fala quando se escreve?
- A um ser acerca de quem nunca se venha a saber se é si mesmo ou um outro.
- Fala-se a um desconhecido?
- Seria absurdo dizer dessa maneira, porém, é a única coisa que podíamos dizer: não se dirigir a ninguém, quando se fala, talvez seja falar apenas consigo mesmo; mas como falar consigo sem imediatamente fazer de si um outro?
- Sobretudo porque nós somos, nós, esse outro.
- Não estou dizendo isso . Você não me compreendeu, ou, fui eu que não me fiz compreender. Esse outro não é eu mesmo, nem minha invenção. Ele é minha descoberta do outro em mim.
Esboçar o perfil de uma palavra numa folha já é estabelecer uma conversa com a página branca.
Tudo o que vemos, escutamos, tudo do que nos aproximamos, uma vez reconhecido, entra em diálogo conosco.
O livro seria, assim, apenas o espaço circunscrito pela palavra aberta à palavra. Não somos escritos onde ela se escreve, mas inscritos onde ela se apaga.
Há uma linguagem própria que a inscrição tumular nos impõe e nos força ao silêncio. Pesado silêncio em busca de um signo.
Ah! outro - homem, mundo, Deus - mais nós mesmos do que poderíamos sê-lo no segredo de nossas confissões; palavra de uma palavra à qual não ousamos ligar nosso nome; pois se somos tributários dela, ela, contrariamente, mais nos escapa do que nos pertence.
Brancura, brancura de sangue. Séculos de orgulho e de derrotas jazem no vocábulo. Você os desperta ao revelá-lo.
Um livro se entreabre quando nos abandonamos.
(tradução: Caio Meira)
AMÃO DESMASCARADA
I
Uma noite para levar
um outro sol.
II
Conhece acaso o cego
a doçura primeira
de ser noite total?
III
"Um sol está em nós...dizia um
sábio. ..O amanhecer o ignora e, no entanto,
fez, da minha vida, perpétuo amanhecer."
IV
"Não há tampouco...dizia, ainda, o
sábio tranparência que, uma vez, não tenha
sido desmascarada."
(tradução: Mário Laranjeira)
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