Madrugada: As cinzas
A Haroldo Maranhão
Madrugada, as cinzas te
saúdamDe novo moldas contra a
penumbra, maldas
o galo do poema, a tua armadilha, o fogo
ardendo cego nos desvãos do sangue
De novo ergues sobre a areia, madrugada, o
corpo
amaldiçoado duma palavra, a teia rediviva
e a sombra crespa do desejo negro
eriçando o pêlo, o cão da página
Riscos se entrelaçam, fisgam a mosca do
deleite
e já a ruína
tenaz, fibrosa, agônica sob a folhagem, mostra
o olho menstrual e sádico do destino
Um sonho cresce e se entumece
no rumor sexual dos ecos se compondo
E batem à porta
- os gonzos, os gozos da ferrugem
o rangido longínquo vagindo de outro mundo
De tudo, madrugada, a dúvida traça um
rosto
exposto neste espelho contra o sol: O soletrado
calcinado.
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(poesia)
Teu nome é não em cio e som
farpados
Cilício escrito, escrita ardendo, dentro
se revendo
fera
do silêncio úmido se lambendo, lábil
labiríntima
lâmina se ferindo
se punindo
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Teu poema
Sonha-me! que te sonho:
tenho esta viagem
que tua estrela crespa, Margaret, das axilas sopra
o herzoguiano barco (au fond
des golfes bruns)
se debatendo, bêbado
nesta garganta
Barco
que arrasto e sirgo selva adentro
(águas
caídas, ecos
da palavra madura, esperma, água sombrada)
e o meu Poema indo
ao léu das febres, ao
que almejo em ti - a
Outra Margem
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Exílio 2
para F. Paulo Mendes
Amemo-nos neste instante,
minha alma: Há
coisas entre nós que não sabemos, ou
ainda não são
são álibis
Como esta asa oca
este poema louco
feito de miasmas e ânsias
indecoláveis
indecorosos pássaros da linguagem
desovando ecos, seus resíduos,
no indizer da praia
E pela praia
entre nós e os sóis que há lá fora, há
o mar lacrado a jaula e meus pentelhos
afogados neste espelho
neste rosto
gasto
neste olho
cego de mim meu eu meu céu ágrafo-vazio
(Ou céu já há, e é, e não conheço
no interpelar da lua
tutelar, a teia
onde estremeço, extremo-me
- fulgor de Circe entre os joelhos?)
Amemo-nos, nome sobre
nome num só nome
aliciando as nossas águas, hélice e ânimo
Amemo-nos neste instante,
minha alma almeja-me
que te chamo e ardo
Agora!
Oh verbo! Estiolado
esperma, a pátria é tarde
E a noite
anoitecendo cria um verme
esconso e esconde-o
amoita-o
no chão dos nomes, minha alma - exílio e lama
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