Para além do espelho
Engana-se quem pensa que o ofício do fotógrafo resume-se em procurar a melhor cena ou esperar o momento certo.
A matéria prima do profissional, em trabalho de estúdio, em particular, é, sem dúvida alguma, a elaboração da iluminação. Toda a cena depende do equilíbrio entre claro e escuro, e é nesse intervalo que opera, indubitavelmente, a criatividade do artista.
Walda Marques inscreve-se na história da fotografia contemporânea paraense com uma trajetória ímpar entre tantos talentos já existentes, e que sempre ocuparam um espaço destacado pela criação laboriosa de um painel de retratos que vem enriquecendo a galeria de tipos invulgares - e isso para falar dos últimos 30 anos.
E neste cenário propício a artista constrói seus personagens, artesanalmente, com uma generosidade peculiar, e imprimindo-lhes auras em celebrações floridas, caminhos de espelhos estilhaçados sobre colchas de piquet, olhos que atravessam o aço para sobre os ombros rumo a horizontes femininos em busca de potes e poções perfumadas, dispostas em penteadeiras art noveau que encerram os últimos sonhos da princesa ora desperta.
As mulheres de Walda são a própria Walda. Belas, ciganas, sedutoras.
Ora anjos ora demônios. Todas, no entanto, prestes a alçar vôo para fugir da bidimensionalidade e ocupar seu espaço nesta dimensão paralela a que chamamos de realidade.
Maria Christina
Fotógrafa
Inverno 2012 |