O infante desterrado no mar

Ave, Ave, vaqueiro do mar!
Ei-o pois argonauta nosso
A não se renderem a ti essas ondas
Esses vales de vagas te amedrontam.

Visitante das águas de outro pólo
Vento a vento te fazes em sargaços
Refletes limo e sol entediados
Velhos platôs e salsas em pedaços.

Rosa dos ventos, bússolas, quadrantes,
Ventre dos rumos, vozes do silêncio
Dizei-lhe como ir, aonde e como
Onde que porto ancorar, onde que porto.

Ave, ave, vaqueiro do mar!
Põe lastros de estrelas e mira da vigia
Os pastos de corais e faróis de plenilúnio
Lavras de espumas e miragens de agonias.

Desterrado de teu reino agora longe
Por desdita, ordem ou desengano
Nesse exílio no vagar em mar aberto
Novas pelejas hás de haver meu nobre infante
.

Bahira e Pekomãn (Instantes)

1
Bahira circunvaga
Volta e volta retropasso
(eh,eh,eh!)
sinaliza o caos.

Não fosse Pekomãn
- semáforo antidesordem -
Que um tudo
ia parir o verbo?

2
Pekomãn finaliza a ordem
- URBI ET ORBI -
Derradeira tarefa
lavrar o verso:este.

Paixão dos Trópicos

Entre Câncer e Capricórnio
Minha paixão sem muralhas
Se acende,
arde
Se encendeia,
cinzas
Fénix tropical.
.
Cobre a ferro dormiam imóveis
em seus sonos feitos
de séculos
Imóveis
do chão para cima
estavam os obstinados canaviais
em sua espera de açúcar.
..
Eu vi um poeta
das grutas de palomas
e um quíchua com seus nervos de estrelas
tudo
tudo
com olhos de brotai paixão.
Montanhas, vales*e planícies
e um som de huayno cavando ecos profundos.
Agua
de todo tempo
fugiam
Lagunas Magoa
tremiam
.
Não nascemos apaixonados
Tampouco imunes às paixões vivemos.
.
Una noche es una noche . . .
En el coche canta el niño.
.
Um dardo de grosso fogo
Falcão
Transbordado em fome
Eu calado sabia dizer
que a nuvem dormia por cima
guardando
soldado e noite.
.
Continente,
Meu amado Contitente
Tua pele cruzada por mil fogos,
vives e sobrevives:
salamandra,
Porque os elementos do mundo 
Ferro
Cobre
Paixão
e Pedra
Forjaram em seus domínios.
.
Troveja na praça dos homens
O chão voa para os músculos
.
A porta renuncia ao que proteje
Um anjo se esconde na palma de minha mão
Um crepúsculo mercenário
Deita-se na esquina.
.
O cão cego e seu dono,
Bebem de um só trago
a derradeira luz latina
— natural.
..
Una noche es una noche . . .
En el coche canta el niño.
.
A boina verde escurece
os corações refletidos
nas dobras de um rio qualquer.
.
Meu pulso anda a galope
Meus ombros balançam em crinas.
Meu punho é corcel de aço.
O verde da boina verde
que o rumine as verdes éguas.
.
Entre Câncer e Capricórnio
Minha paixão sem muralhas
silencia.
Se acende
e silencia
Se acende
e se incendeia
Persistente vulcão sem vez dormida.
José Maria Vilar
tel 55 91 3223 8161