Arte Poética

Hoje,
amanheci meio peixe,
meio pássaro.

Estou aprendendo a nadar,
tomando aulas de vôo
e aprimorando o canto.

Amanhã,
pássaro pleno,
insofismável peixe,
debulharei meu canto sobre a terra
em nados abissais

e vôos rasantes.

Auto-Retrato

...E Deus deu-me estas mãos – arados vivos –
deu-me o dom de cantar – pá da existência –
um latifúndio fértil, o grão da escrita
e uma vontade insana de plantar.

E assim, quando me assalta essa vontade
de masturbar o verbo e fecundar manhãs,
meus lavradores dedos sulcam o sonho
e a pá lavra o silêncio
e se faz voz
!

Verde Canto 

.

Verde é o meu canto
vivo muiraquitã de amor talhado
na pedra da existência e pendurado
no invisível pescoço do amanhã.
Verde é o meu pranto
musgo a crescer nas fendas seculares
abertas pelas mãos da malquerença
na história carcomida deste chão.
Verde é o veneno
que escondo na palavra – jararaca
furtivamente oculta entre a folhagem
no emaranhado chavascal de mim
.

Vôo Noturno

Na fogueira da aurora eu me consumo
e ressuscito entre os lençóis da noite
para tecer meu ninho de discórdias
no frágil ramo do teu coração.

A minha pena – faca de dois gumes –
ao mesmo tempo fere e acaricia;
as minhas asas - guarda-sóis se abertas,
quando fechadas, grades de prisão.

Trago nas veias sangue canibal:
bebo esperanças, mastigo ilusões
e, às vezes, sorvo sonhos matinais.

Portanto não se engane: sou poeta
em cujo peito dorme um troglodita
que traz no coração pluma e punhal
.

Hai-Cai

a borboleta
põe dobradiças de sonho
sobre o jasmim.

Antonio Juraci Siqueira
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