Finados

De madrugada
passa vazio, cheio
de sombras,
o Souza–Marambaia
todo iluminado

em frente
ao Goeldi –

ali, alheia entre
répteis, aléias e sonho
esplende a flor
da vitória-régia,
seu olho-açu, imenso
aberto no meio
da escuridão.

ÉS, és, és
o tempo
todo, exausto

a folhear o Inferno
de Nachtwey,
sete palmos acima

entre fogos:
no odor vulgar da menta,
na idéia de estar,
confusão de estrelas, na eterna
espera atrelada à despesa
mesma de tuas horas
sem a resposta,

latido na mata,

floral-
selado,
no envelope do Iapi
fechado
sobre a mesa,
és, és ainda.

Em cima,
do avesso, o cão puxa o homem pela coleira.
Se és
esse
homem, levanta.

Zu Hause
à Lívia Lopes Barbosa

O sangue
ralentado (mar
com mar)
no reencontro com a baía,
a velha mangueira,
recém-capada, te reconhece
no fólio em folha,
abres onze janelas,
respiras água:

é setembro,
estás de volta
em casa.

Ano Novo

De passagem
na plena idade,
sem tenda e estrela
e longe da selva,
.
perambulando num lavatório
de aeroporto à espera
da pantera,
vorado por dentro
a farejar o círculo
extravagante que conduza
à via nova
do início de tudo
.
quando avisto, brilhante-
perfeito, céu do êxito, luminoso aviso
em vermelho, Saída,
e solar-radiante
a flecha.
.

Guia

Oés-a-esmo,
de esmolar caminho,
seguindo a estrela aviã, via
de reis sob o troar de latas –
.
Ave,
o Talvez
.
é chegado, traz o presente
do avenir, blindado tempo de cegos:
esse um todo
cravejado Se de certezas.
.

A piscina

Numa lata de óleo
aflorava o pé
de cidreira à beira
da piscina
de pastilhas color-
.
idas: o sorriso
da onça na polaroid
flamejante era
tempo,
couro, gases
no sopro do corpo,
ouro
na mandíbula jovem
que brilhava por nós,
.
que por ti brilhou
.
e se fechou após
quarenta e cinco
verões
.
.

Age de Carvalho
.