"Uma trágica ópera tapuia,
prenunciadora de um mundo que vai desaparecendo"

(Ruy Barata sobre seu trabalho em parceria com Paulo André Barata)

 

PAUAPIXUNA
( Paulo André e Ruy Barata )

Uma cantiga de amor se mexendo,
uma tapuia no porto a cantar,
um pedacinho de lua nascendo
uma cachaça de papo pru ar.

Um não sei que de saudade doendo,
uma saudade sem tempo ou lugar,
uma saudade querendo, querendo,
querendo ir e querendo ficar.

refrão:

Uma leira, uma esteira,
uma beira de rio,
um cavalo no pasto,
uma égua no cio,
um princípio, de noite,
um caminho vazio,
uma leira, uma esteira,
uma beira de rio.

E no silêncio uma folha caída,
uma batida de remo a passar,
um candeeiro de manga comprida,
um cheiro bom de peixada no ar.

Uma pimenta no prato espremida,
outra lambadadepois do jantar,
uma viola de corda curtida,
nesta sofrida sofrência de amar.

refrão

E o vento espalhado na capoeira,
a lua na cuia do bamburral,
a vaca mugindo lá na porteira,
e o macho fungando lá no curral.

O tempo tem tempo de tempo ser,
o tempo tem tempo de tempo dar,
ao tempo da noite que vai correr,
o tempo do dia que vai chegar.

refrão

(Gravado por Fafá de Belém, em disco Polygran; Paulo André Barata, em disco Continental; e Leila Pinheiro em disco promocional da Engeplan. Trilha musical de novela)

NATIVO
( Paulo André e Ruy Barata )

Desses rastros dormindo nasce um campo,
na reponta dos ventos e mugidos,
caviana de cornos bubuiando,
barcarenas a ser, ou for, em sido.

Há sempre o que sortir nesses doendos,
de lonjura silendo e sipurgando,
amor é meses-mares siregendo,
amor é sipartindo e sichegando.

Amor é amar, em dois, predicativo,
amor é sisofrendo e sisofrido,
amor é simorrendo e simatando
amor é dez em dois de simorrido.

E tudo amor, amor, em erre aspado,
amor em solsolvido e solsoldado,
amor é eme urdido e eme atado,
amor de mor amor de amor talhado.

(Gravado por Fafá de Belém e Paulo André Barata, em disco Continental e disco promocional da Engeplan. Trilha musical da novela "Aritanã". Vencedora do Festival Latino-Americano "Costa a Costa, realizado no Uruguai)

ESSE RIO É MINHA RUA
( Paulo André e Ruy Barata )

Esse rio é minha rua,
minha e tua mururé,
piso no peito da lua,
deito no chão da maré.

Refrão:

Pois é, pois é,
eu não sou de igarapé,
quem montou na cobra grande,
não se escancha em puraquê.

Rio abaixo, rio acima,
minha sina cana é,
só em falá da mardita
me alembri de Abaeté.

Refrão

Me arresponde bôto preto
que te deu esse pixé
foi limo de maresia
ou inhaca de mulhé.

Refrão

(Gravado por Fafá de Belém em disco Polygran e Paulo André Barata, em disco Continental. Trilha musical de filme)

PACARÁ
( Paulo André e Ruy Barata )

Vento, vento, vento, vento, Siquê.
Vento, vento, vento, vento, Sabiá.

Pacará, Pacarazinho,
ferra o leme no tupé,
no cambá da vela grande
vai nos cachos da maré.
Vê que o mar não tem cabelo
e o vento não tem mulhé.

Maré cheia, ô maré cheia, ô maré cheia,
ô maré cheia, tão cheia de mar.

Pacará, Pacarazinho,
sou teu mestre-professô,
arrepara o beiço d'água,
que lá fora se formô.
Toma tento no repique,
que o vento já repicô.

Maré cheia, ô maré cheia, ô maré cheia,
ô maré cheia, tão cheia de mar.

Olha a costa da Vigia,
pixuna de maresia, ê vem,
olha lá no quebra-pote
o sulapo do bigode
quela tem.
Arrepara a bijarrona,
camba a quilha de patrona, também,
forga o cabo da bandeira,
no balanço, balancea,
te tenteia,
no bilim-belelem.
Belém, Belém.

Maré cheia, ô maré cheia, ô maré cheia,
ô maré cheia, tão cheia de mar.

(Gravado por Fafá de Belém, em disco Polygran; Paulo André Barata, em disco Continental e Lucinha Bastos em disco promocional da Engeplan)

FOI ASSIM
( Paulo André e Ruy Barata )

Foi assim,
como um resto de sol no mar,
como os lenços da preamar,
nós chegamos ao fim.

Foi assim,
quando a flor ao luar se deu,
quando o mundo era quase meu,
tu te foste de mim.

"Volta, meu bem", murmurei.
"Volta, meu bem", repeti.
"Não há canção nos teus olhos,
nem amanhã nesse adeus ! "

Horas, dias, meses se passando
e, nesse passar, uma ilusão guardei:
ver-te novamente na varanda,
a voz sumida e quase em pranto,
a murmurar "meu bem, voltei".

Hoje essa ilusão se fez em nada
e a te beijar outra mulher eu vi,
Vi no seu olhar envenenado
o mesmo olhar do meu passado
e soube então que te perdi.

(Gravado no exterior e no Brasil por Fafá de Belém em disco Polygran. Trilha musical de novela e filme)

NOITE DE PARICÁ
( Paulo André e Ruy Barata )

Chamei o sono, veio você,
você na folha do paricá,
pastei nos campos de Oxelê,
deitei na rede do Grão-Pará

Pisei a nuvem que não se vê,
vesti o manto de Yemanjá,
fechei o corpo, não sei porque,
pedi cachaça com guaraná.

E, de repente, se fez a semente,
em quarto crescente a lua brilhou,
brilhou sobre o lago parado,
recanto encantado num canto de amor.

Abri os braços em tantos abraços,
lenços e laços que a noite lançou,
lançou na maré da vazante,
várzeas e ventos, na voz que chegou.

(Gravado por Paulo André Barata, em disco Continental e Lucinha Bastos em disco promocional da Engeplan)

INDAUÊ TUPÃ
( Paulo André e Ruy Barata )

Ô indauê Tupã,
ô indauê Tupã,
vim de quando,
vou pra onde,
passei Conde,
Cametá,
a canoa
vai de proa
e de proa eu chego lá.

Rema, meu mano rema,
meu mano rema,
rema que o sol na brenha,
se qué deitá.
Rema, meu mano rema,
meu mano rema,
que a canoa vai de proa
e de proa eu chego lá,
que a canoa vai de proa
e de proa eu chego lá.

(Gravado por Fafá de Belém em disco Polygran; Paulo André Barata, em disco Continental; e Claudio Nucci, Vital Lima e Marco André em disco promocional da Engeplan. Trilha musical de filme)

PARANATINGA
( Paulo André e Ruy Barata )

Antes que matem os rios,
e as matas por onde andei,
antes qeu cubram de lixo,
o lixo da nossa lei,
deixa que cante contigo,
debruçado em peito amigo,
as coisas que tanto amei,
as coisas que tanto amei.

Antes que matem a lembrança
dos muitos chãos que pisei,
antes que o fogo devore
o meu cajado de rei,
deixa que eu cante afinal,
na minha língua geral,
as coisas que tanto amei,
as coisas que tanto amei.

Araguary, Anapu, Anauerá,
Canaticu, Maruim, Bararoá,
Tajupará, Tauari, Tupinambá.
Surubiu, Surubim, Surucuá,
Jambuaçu, Jacamim, Jacarandá.
Marimari, Maicuru, Marariá.
Xarapucu, caeté, Curimatá,
Anajibu, Cunhantã, Pracajurá.
As coisas que tanto amei,
as coisas que tanto amei.

(Gravado por Paulo André Barata, em disco Continental e Lucinha Bastos em disco promocional da Engeplan. Trilha musical de filme)

PORTO CARIBE
( Paulo André e Ruy Barata )

Quem vai querer, vai querer,
vai querer desarrumar...
Quem vai querer, vai querer,
vai querer lambadear...

Eu sou de um país que se chama Pará,
que tem no Caribe o seu porto de mar,
E sei, pelos discos do velho Cugat,
que io, io num puedo vivir sin baylar,

Lambada nega vem cá,
neguita nega me dá,
me dá que eu dou,
te dou aquele fungá
das ilhas do bom chamar amor...

Calar eu me calei, agora vou falar,
Paris se cheguei vou ficar.
New York, Moscou,
Berlim e Bogotá,
eu sou, sou mandinga do Pará.

(Gravado por Lucinha Bastos em disco promocional da Engeplan)


OUTRAS MÚSICAS

Paulo André e Ruy Barata:
ENCHENTE AMAZÔNICA / ANA ORTIZ Y CASTELAR / MEU AMOR É PRATO CHEIO / ÍTACA OU MEMÓRIAS DO EXÍLIO / BELA FATAL / CARTA NOTURNA / GARRAS E GUITARRAS / NOTURNO DA SOLIDÃO /AMAZON RIVER / PEDE / BAIUCA'S BAR / BANHO DE CHEIRO / SANTARÉM / AVÔA SAUDADE / LITANIA / MOLDURA ANTIGA / TRONCO SUBMERSO

Com outros compositores:
CANÇÃO ANTIGA (J.G. de Campos Ribeiro) / GUARDA REAL (Alfredo Reis) / URGENTE (Antonio Adolfo) / A SERPENTE (Edyr Proença) / VIM (Edyr Proença) / SEGURA AS PONTAS, DOUTOR (Edyr Proença) / SÓ PEÇO TRÊS (Edyr Proença) / AMOR ENGALHADO (Edyr Proença) / SONO GERAL (Edyr Proença) / CASA DE MÃE JOANA (Alfredo Reis, Antônio Carlos Maranhão) / VIVA A ZONA (Alfredo Reis, Antonio Galdino) / BELA FATAL (Paulo André Barata, Antonio Adolfo)


Ruy Guilherme Paranatinga Barata
( 1920 - 1990 )