[Genialidade delegada, intelligentsia paraensis de plantão no Bar do Parque. Pior, ele acreditou. Enfant terrible aos vinte, ok, Basquiat do Age, poema do Max, renga com o Simões; aos 40, folclórico.

PP é uma figura difícil, mas difícil é falar mal da sua pintura...]

Desenho visceral manipulando o lápis a estocadas, facada faber-castell na alvura imaculada do papel. Pintura cicatriz na flor da pele, pátina a estilete, veladuras-hematomas, tatuagens na retina, pintura acumpuntura, pincéis-agulhas no nervo óptico da tela. Chagas de Fontana, espátulas na veia, punções-punhais-pincéis na jugular, açaí-sangue-e-areia, PPolock espirra, esporra in action-prainting uma oração. Tanta violência, mas tanta ternura, suaves torturas-texturas de fratura exposta. Navalha na carne da paleta, operações plásticas sem anestésico, suturas com arame farpado na face oxidada do retrato. Soco no fígado, cabeças cortadas - deixa sangrar na “Minha Santa Delegacia”.
Não tivemos “Amazônia Felsínea” do Landi? Pois é, também temos “A Amazônia É Minha!” na DisneyLandi do PP. Pintura-Pensamento, boas idéias = boa pintura, esta sim conceitualmente contemporânea, de alguém que tem algo interessante a dizer, terreno fértil, um oásis de repertório na contramão da aridez de propostas pseudo-conceituais. O Peter Paul Conduru revigora a pintura [Bacon faz bem pra vista!], com um prazer sexual de pintar que todo (verdadeiro) artista sabe ter. Apresenta uma pintura vicejante, exuberante e através dela salva a pátria, garantindo a soberania da região - coisas de um velho guerrilheiro cultural e sua pintura de resistência.

Temática nada fácil, o Pictorescco Amazonicum [JE], assunto banal, Banana Republic, coisa pra turista ver, aquilo tudo que o Big Brother quer que sejamos. Pois só pra contrariar, faz do exótico lugar-comum algo extraordinário, baixando todos os espíritos da mata: numa expedição ao Imaginário, narcótico jambu, pinta uma floresta psicodélica, plantas alucinógenas, flora carnívora, flores do mal de Baudelaire, tintas de curare. Ekhoutsider numa Hiléia transgênica, Santo Daime nos acuda. Onírico Rousseau, a mata virgem enfeitiçada e prostituída (não foi boto, sinhá, foi o PP!), a Amazônia vendida, senhores: Trusts Trópicos [O antropólogo Claude Lévi-Strauss adorou a Baía de Guajará. O pintor PedroPaul Gauguin amou as luzes na noite dela]. Port of Parádise. Van Goghs vagando nos campos do senhor, suicidados pela sociedade de Artaud. A índia e o traficante, bandido glamour, Rimbaud saqueando nossa biodiversidade, PP no pôpôpô “Gin das Selvas”, barco bêbado sangrando o rio barrento. Let it Bleed! Pinta o jardim botânico de Macondo, o Bosque e o Museu de nossa Companhia Bananeira paraense. Cenário Fitzcarraldo delirante Aguirre cólera dos deuses e diabos na terra do sol em transe. Veredas policromáticas saturando o verde vagabundo da vastidão amazônica. A Hard Rain Is A-Gonna Fall over the rain forest.
Bloodin’ the Windows!, deleta o teu design gráfico. Pinta, PP, pinta. Paint it again, PP.

artista plástico/arquiteto..

Jorge Eiró
novembro 2003

P.S.
Exumar os anos 80, onde anda você, geração perdida, desaparecidos, outsiders. “Salão Paulista, Bons Tempos”, hein, PP? Nostalgia da modernidade. Onde estão nossos “Ingênuos da Pintura” que não sobreviveram ao assédio ordinário das viuvinhas Duchamp. Cadê você PP, Simões, Ronaldo, Haroldo, Luciano, Tadeu?
[PP e HB protagonizaram um happening antológico no velho CosaNostra: “Doischopps Duchamp: A Fonte”: era, simplesmente, um cuspindo no chopp do outro].
tinta acrílica / tela
galeria do café imaginário em 2003
 

 

 

 

 

 

 

 

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