.
|
|
|
O
anunciado acima pode ser lido como uma párafrase de a ”A
obra de arte na época de sua reprodutibilidade técnica”,
livro do filósofo judeu-alemão Walter Benjamin,
em que ele reflete sobre a situação da arte diante
do advento das máquinas de reprodução em
série da era industrial, ou seja, dos novos meios de produção
da revolução mecânica. Sendo que, através
da história, toda vez que a tecnologia e arte encontram-se,
esta última é sempre colocada em xeque. Por isso,
aqui não se trata de discutir se esta nova série
de trabalhos de PP Condurú é algo de novo na arte
ou não. A questão é mais além, ultrapassa
a isto. A pergunta é: se é arte ou não. Porque
para a maioria dos artistas durante a história da arte
tem sido uma temeridade a utilização de novos meios
de produção, principalmente, dos meios de produção
da era industrial, pois quando isto ocorre podem acontecer extremos:
a morte da arte, nos posters da Monalisa, ou um enfoque dela,
gerando até uma nova conceituação, como nos
ready mades de Marcel Duchamp. |
|
Se
este risco esteve presente com os meios de produção
da era industrial, não estão menos presentes com
os meios da era pós-industrial. Agora, vejamos: PP aqui
, utiliza-se destes novos meios de produção pós-industrial.
E o que acontece? A morte da arte? Neste caso, não! Porque
a morte da arte acontece quando tais recursos disponíveis
passam de meios de produção para simples meios de
reprodução para o consumo de massa e mídia
de mercado. E o que realmente aqui acontece é a expansão
das possibilidades de exploração do terreno artístico,
em que o autor mantém a sua expressão individual
- a voz do seu ser intransferível - elemento essencial
para a sustentação do fenômeno artístico
- o drama humano, mesmo quando não apresenta na figura
de um homem, mas de um peixe - monstro perplexo da escuridão
do tempo e do espaço, como aparece em um dos trabalhos,
continua, só que agora, on-line, transportado para outro
tipo de veículo que é contemporâneo da sua
e das nossas vivências. Digo: é um ato de coragem
e talento reunir realidades aparentemente díspares. Pois
coloca-se num limiar entre o objeto único, irreproduzível,
caracteristicas da arte, e o objeto que permite a sua reprodução
em série, só que estando a cargo do próprio
espectador , como poderemos ver mais adiante. E digo também
que além de um ato de coragem e de talento, é também
um ato de generosidade, pois não se furta a dialogar com
seu tempo, com seus irmãos contemporâneos, apesar
de todos os riscos que possa acarretar - o desbravamento de um
novo continente. Estendo minha mão a este espírito
inquieto que, intuitivamente, demonstra que, como disse o poeta
russo Vladimir Maiakoviski “a poesia-toda é uma viagem
ao desconhecido". |
|
|
|
Não
estou aqui para rotular nada. O poeta Apollinaire soube fazer
isso quando batizou o surrealismo de surrealismo. Mas não
sinto-me à vontade para isso por achar que tal coisa só
amarraria o artista a uma provável camisa de dogmas, perseguido
por dobermans de óculos em busca de vigiar e cobrar as
normas de alguma nova seita estética, política,
polícia. Mas posso dizer que se o poder de transportamento
é um dos elementos mágicos da arte, nesta nova série
de trabalhos, PP a mantém e vai um pouco mais além.
Partindo da capacidade transportamento da arte até com
capacidade de teletransportamento colocando-se, inclusive, dessa
forma, paralela e paródicamente, em sintonia com o que
há de mais avançado em experimentações
no campo da física, como a do teletransportamento molecular. |
|
|
Cientistas
austríacos conseguiram, recentemente, teletransportar uma
molécula, quer dizer, desmaterializar e rematerializar
um minúsculo fragmento de vida de um lugar para outro.
Com essa nova experiência estética PP Condurú
realiza o teletransportamento da arte, criando uma obra, um objeto,
que pode ser desmaterializado virtualmente para pura imagem, através
de um programa, e materializado novamente em mesmo objeto num
outro lugar, sobre um suporte físico tradicional, que pode
ser papel ou tela, com tinta de muito maior durabilidade. Oferecendo
ao público não mais um objeto, mas a própria
essência do objeto: a imagem. O público passa a adquirir,
a custo mais acessível inclusive, o direito de imagem,
em vez de artefato. E dessa forma, cria-se também uma nova
relação de autor com seu espectador, em que este,
como receptor da obra, pode materializá-la, por si mesmo,
sobre o suporte desejado, participando, interativamente, da finalização
do trabalho. Em todo caso, é pintura. Mas pintura que se
lança, de forma destemida, numa aventura , ao mesmo tempo,
delicada e audaciosa. |
|
|
|
esse
trabalho foi executado no photoshop
galeria do café imaginário em 2001
.
|
|