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Se a
idéia de seleção de algum aspecto da grande realidade do mundo define a poiésis
fotográfica genericamente, é a eleição do objeto em seu pormenor, no segredo de sua
pequena existência, o que logo nos aproxima do particular ( portanto, do estilístico )
no trabalho de Maria Christina. O conjunto das fotos arranja-se em unidade não à custa de um tema pacificamente apontado, mas de uma macro-temática. Tal procedimento pode ser compreendido como resposta negativa a um mundo de objetos em hiper-contexto. Nas fotos, o contexto espacial é várias vezes reduzido à abstração. Um recurso sofisticado, na medida em que mesmo opacizando a circunstância, é clara a intenção de preservar a estabilidade dos sentidos, a estrutura significante permanecendo em relativa abertura. Uma maneira de vê-la ( arriscando-nos ao erro da leitura conteudista ) seria por meio da oposição aparente entre os motivos, tomados em conjunto como memórias do encontro e da perda. Beijo sem bocas, abraço de pano - o "pathos" inexplicável ocupando fantasticamente a matéria morta dos bonecos de miriti. A pietá anunciando o duro silêncio de sua carne (momento). A santidade desfigurada da imagem. O pai, a filha (vosso) unidos na ação de um esforço plástico que re-inventa (rebatiza), nomina uma vez mais. A delicadeza nos arranjos evita qualquer tentativa do observador em instaurar neste universo a força de conflitos que a ele não pertencem. Maria Christina resigna-se ao pactuar com a nudez de sua invenção. A exemplo de uma imagem-poema de E.E. Cummings, o poema-imagem pensado no olho da fotógrafa surpreende com a precisão da lacônica ternura. É neste fazer que a flagramos: a revelação dá-se através da dramaticidade breve, medida, que declara a inquietude ali onde sua ação é mais valiosa: no olhar generoso sobre uma arquitetura mínima - o instante em que submete à síntese poética a diversidade fugidia do real.
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AVANÇAR |
Maria Christina |